20 de jan. de 2011

Sobre… – O fim, afinal!

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AVISO: esse post contem spoilers do gran-finale de “Lost” (alguém ainda não viu?)

Falar de séries de TV aqui no Anagrama sempre foi uma vontade que nutri, mas nunca realizei. Ainda que elas estivessem entre os assuntos que eu pretendia cobrir com o blog e, no final das contas, entre esse conjunto de linguagens que chamamos de entretenimento, minha própria relativa ignorância acerca do assunto foi um fato inibidor nesse sentido. Não que essa ignorância tenha mudado, e aviso desde já que meus comentários acerca do assunto tendem a vir dispersos e atrasados, levando-se em conta que vejo as séries no seu lançamento em DVD, meses depois da exibição na TV fechada brasileira. Mas, de qualquer forma, finalmente a vontade de emitir opinião sobre esse mundo todo particular das séries foi maior que a preguiça. E a culpa? Bom, uma palavra para vocês, caros leitores: Lost.

É, o assunto é velho, e não digam que não avisei. O maior fenômeno televisivo do nosso século fechou os trabalhos há quase um ano, com a bomba-relógio (de título óbvio) The End, episódio que se aproximou das duas horas de duração na missão de amarrar as pontas do mistério mais famoso do entretenimento contemporâneo. E as reações não poderiam ser mais diversas e, ao mesmo tempo, mais radicais: houve quem tenha amado o finale engendrado por Damon Lindelof e Carlton Cuse, talvez as duas mentes mais ativas no desenvolvimento de toda a série nas suas seis temporadas; e houve quem tenha odiado a solução do mistério. Se me cobram um posicionamento nessa guerra, não titubeio: as soluções de Lindelof e Cuse me agradaram, e muito. Mas deixemos para trás os radicalismos e partamos para as explicações.

Lost, para mim, nunca foi sobre o mistério. Não que as possibilidades da mistery box do produtor J.J. Abrams não fossem empolgantes, mas o grande destaque da série, a questão central que me saltava aos olhos a cada episódio, era a psique, o comportamento e o papel de cada personagem no mecanismo da série. As considerações sobre o passado dos losties que marcaram as três primeiras temporadas, os estudos sobre como as decisões tomadas na ilha afetaram a vida dos cinco personagens que conseguiram sair de lá nos dois anos seguintes, e até a intigante realidade alternativa que figurou nessa última fase do programa, tudo parecia projetado para nos revelar mais sobre aquelas pessoas perdidas na Ilha, e não sobre a própria natureza dela.

Se você é capaz de enxergar a série assim, The End é um finale perfeito. Ao fazer da solução do grande mistério uma consideração final sobre o que os personagens passaram na Ilha, e não o que o espectador gostaria de descobrir, Lindelof e Cuse criaram uma peça emocionante, interessante, empolgante e realizada com know-how comparável apenas ao próprio piloto da série, que J.J. Abrams guiou em 2004. Não é um finale que busca explicar tudo, mas certas coisas não precisam ser explicadas, e soa mais natural dessa forma. E não me faça começar a falar sobre o elenco de Lost. Da primeira fase até a última, sempre crescente, esse conjunto de performers sem precedentes trabalhou junto com os roteiros focados, ainda que irregulares, para criar um rol de personagens verdadeiramente inesquecíveis. São eles, mais a equipe de escrita da série, que me fazem dizer a plenos pulmões que, com todas suas imperfeições, Lost se junta a Arquivo X e Jornada nas Estrelas como uma série de TV imortal para a cultura pop.

A começar pelo próprio Matthew Fox, cujo grande momento na série talvez tenha sido ainda na primeira temporada, com Jack brigando com as próprias convicções no brilhante Do No Harm, mas que foi de ponta a ponta nessa jornada com uma atuação concentrada e completa, dando a Jack o status de um dos grandes heróis românticos (ainda que falhos) do nosso século. Ao seu lado, Evangeline Lilly e sua atuação inesquecível em I Do, da terceira temporada, mesmerizou os espectadores masculinos e ainda conseguiu passar por cima de roteiros que raramente favoreciam Kate com a perícia de uma atriz que sabe o que está fazendo. Completando o triângulo amoroso, Josh Holloway (alguém consegue esquecer Sawyer atirando o anel de noivado no mar em What Kate Does, dessa última temporada do programa?) marcou uma atuação instintiva que teve seus momentos de glória e deu a série um suporte carismático e impetuoso.

Talvez mais dois destaques sejam o bastante para não me perder no erro de dizer demais. Jorge Garcia se tornou provavelmente o grande ícone produzido pela série na pele de Hurley, o tipo de personagem coadjuvante por acaso, crescendo tanto na percepção do público que se tornou talvez a peça de ser humano mais envolvente de toda a série. Tricia Tanaka is Dead (de longe a melhor peça da terceira temporada), The Beggining of the End (também entre os destaques da quarta fase) e mesmo o The End mostraram a importância dessa figura e o destaque que ela ganhou no imaginário do espectador. É irônico que ao seu lado tenha acabado outra figura que se tornou dominante aos poucos para os fãs da série: o Benjamin Linus do fantástico Michael Emerson chegou a série como quem não quer nada, na segunda temporada, e cresceu tanto na hstória que acabou se tornando talvez o grande exemplo de como Lost procede com seus personagens. Eles se tornara pessoas reais, falhas, sujeitas a mudanças, não meros pivôs em alguma história maior.

E talvez seja por isso que, independente de soluções satisfatórias para alguns e ultrajantes para outros, Lost sempre vai servir como exemplo de como uma série deve manipular as emoções do público e tratar as personas que coloca em tela. E, se quando o olho de Jack se fechou no último take do The End, você não estava com a visão embaçada de lágrimas, me perdoe, mas Jacob certamente não te escolheria.

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[Jack]: Onde nós estamos, pai?

[Christian]: Este é um lugar que você… que vocês todos fizeram juntos, para que vocês pudessem encontrar uns aos outros. A parte mais importante da sua vida foi o tempo que você passou com essas pessoas naquela Ilha. É por isso que vocês estão todos aqui. Ninguém consegue fazer isso sozinho, Jack. Você precisava de todos eles, e todos eles precisavam de você.

[Jack]: Para quê?

[Christian]: Para se lembrar. E… e para seguir adiante.

(Matthew Fox e John Terry em “The End”)

1 comentários:

Renan Barreto disse...

To remember and... To let go.

Cara, eu chorei o último episódio inteiro. Quando o Jack fechou os olhos eu já estava desidratado. Foi um sentimento de ter perdido algo importante, algo que foi parte da sua vida, algo que vc praticamente viveu e viu crescer. LOST pra mim é uma das séries mais incríveis de todos os tempos. Talvez a que me deixe com mais saudades. Eu sinto uma dor no peito que me faz até mal. Me senti realmente perdido com o final. As falas bem colocadas, o final bem engendrado. Pra mim foi uma série perfeita, mesmo que não tenha sido 100% feliz com suas escolhas. É algo difícil de acontecer. É impressionante como me senti vivendo aquelas situações por mais absurdas que pareciam. A narrativa dinâmica e cheia de complicações, que só eram entendidas quando vc compreendia como a engrenagem girava. Flashbacks e mais tarde flashforwards... Po! O Ben é da terceira temporada foi o melhor personagem que já existiu na TV. A Juliet linda... Eu gostei quando ela ficou com o Sawyer. Achei um casal sincero, às avessas, mas sincero. Elevou mais ainda o patamar do que Jack e Kate. Kate que é linda também.

Enfim, eu não gostei do final quando o vi, mas depois de chorar muito e ter prestado atenção, me dei por vencido e achei FODA!!!

Agora, Fringe por mais maneiro que seja, não é LOST. Talvez tenhamos que esperar uma ou duas décadas para outra série assim.

Abração!!! E Post excelente!