3 de jan. de 2011

Endlessly – Duffy contra-ataca!

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** (2,5/5)

Quando Duffy surgiu para o mundo com Rockferry, a referência dominante em seu estilo e timbre de voz era Amy Winehouse. Prezada pela elegância de suas canções, pela constância qualitativa de sua estreia e pela aura "sexy a moda antiga" que conferia a sua imagem, Duffy passou os últimos anos curtindo o sucesso, com a atraente discrição que lhe é particular. Amy, por sua vez, não se contentou com pouco: deu as caras bêbada, drogada, entrou e saiu de clínicas de reabilitação dezenas de vezes, socou fãs durante shows, e até quando passou uns tempos de férias no Brasil virou notícia, fazendo topless e jogando capoeira. Tão estrela se tornou, no pior sentido da palavra, que Amy arriscou perder a preferência crítica para a concorrente galesa. Endlessly, segundo álbum de Duffy, foi feito para firmá-la como artista forte comercial e criticamente. Acabou sendo recebido de forma morna pelos especialistas e gelada pelo público. Por quê? Bom, isso só Deus sabe. Mas não custa tentar advinhar.

Endlessly até abre com boas expectativas. My Boy (Faixa 1) é candidata séria a nova favorita dos fãs, com seu refrão contagiante e produção equilibrada entre o som antiquado que sempre vai ser relacionado ao repertório de Duffy com toques de sintetizador e baixo funkeado que trazem a canção para um confortável contexto mais contemporâneo. Por outro lado, o primeiro single do álbum, Well, Well, Well (Faixa 4),  apesar de ter Duffy no topo do seu jogo  vocal, derrapa ao falhar no que a faixa de abertura faz com facilidade: desenvolver um refrão marcante o bastante para fazerem funcionar as boas ideias instrumentais e melódicas.

No lado das baladas, o segundo disco da galesa é também uma faca de dois gumes: abre com exagero e sem clímax na enervante Too Hurt to Dance (Faixa 2), e poucas faixas depois nos vem com a memorável Don't Forsake Me (Faixa 5). A segunda é tudo o que a primeira tenta ser e não consegue: uma canção romântica discreta e emocionante, que lembra o ouvinte do poder de sedução do vibrato de Duffy e se junta a lista de canções realmente competentes de Endlessly. Talvez seja mesmo um caso em que vários cozinheiros mexendo na mesma panela seja melhor que apenas um impondo seu estilo. Explica-se: Don't Forsake Me é uma das faixas em que o parceiro de Duffy no álbum, Albert Hammond, ganha a ajuda de Stuart Price (Aphrodite de Kylie Minogue, Day & Age do The Killers) para equacionar a música da galesa.

Por falar em Price, ele é obviamente o responsável por Duffy ter se tornado mais pop do que costumava ser nesse segundo álbum. Lovestruck (Faixa 8) é o exemplo perfeito: com teclados espertos que miram os topos das paradas e um dos refrões mais viciantes da carreira da galesa, a canção mostra que Duffy pode, sim, explorar novos horizontes mantendo a pose e a personalidade. No mesmo sentido, com mais discrição, Girl (Faixa 9) tem Duffy no seu território vocal, brincando em cima de melodia e letra antiquadas, mas mostrando na parte instrumental que o pop contemporâneo pode ter muitas faces diferentes. Apesar de ser a única canção na qual a cantora não tomou parte como compositora, a penúltima faixa de Endlessly soa estranhamente pessoal.

Talvez os únicos momentos em que Hammond se acerte na produção sejam a faixa-título e a saidieira do álbum. Endlessly (Faixa 6) é uma daquelas pérolas de letra singela e execução descomplicada, mas que por algum motivo desconhecido marca a memória afetiva do ouvinte. É uma canção pura e assumidamente romântica, que funciona muito bem na interpretação de Duffy. Já Hard For The Heart (Faixa 10) é uma história completamente diferente. Para começar, a canção traz a galesa em um momento intensamente emotivo e, curiosamente, também bastante contido. Seu belo timbre consegue brilhar sem abafar a produção sofisticada e apoteótica, que confere pulsação e força para uma composição marcantemente poética.

A canção mostra, enquanto Endlessly contradiz seu próprio título ao deixar o ambiente silencioso após seus ligeiros 33 minutos de execução, que Duffy ainda tem seus momentos de brilhantismo como cantora e compositora. E o álbum? Bom, ele se destaca como uma obra de riscos, e uma que obviamente não consegue escapar sem equívocos pelo caminho. Mas ao menos serve para a galesa expandir seus horizontes musicais. Da próxima vez, se ela se cercas das pessoas certas, Amy vai estar em apuros para conseguir seu posto de volta.

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“…I am looking for safety/ What it is all about/ For somebody to tell me/ Take away this vow/Life is a play and we all play our parts/ But it often gets hard for the heart!…”

(Duffy em “Hard For The Heart”)

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