7 de dez. de 2010

RETROSPECTIVA 2010 – Música

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“California girls are unforgettable”

E o ano foi das garotas… de novo. Domínio absoluto no mundo pop mainstream, elas tiveram pelo menos três representantes fortes entre os destaques musicais desse ano. A começar por Katheryn Elizabeth Brand, conhecida pelo pseudônimo Katy Perry, a californiana que surgiu para o mundo ao cantar que “beijou uma garota e gostou” no mega-hit I Kissed a Girl (escrita, segundo a própria Perry, inspirada pela foto de Megan Fox publicada em uma revista). 2010 foi a oportunidade para ela mostrar que não é fogo de palha no universo pop e continuar fazendo sua música “atrevida”, mas bem mais “do bem” do que a maioria da musica pop feita hoje. Teenage Dream trouxe esse espírito na própria faixa-título, uma ode a inocência adolescente, o Sol californiano do verão no single California Gurls e até uma mensagem libertária/edificante em Firework. Mas ouvir Katy Perry ou não continua sem fazer diferença nenhuma na sua vida ou na sua cultura pop.

“Cause baby you’re a firework/ Come on, show ‘em what you’re worth/ Make ‘em go, ‘oh, oh oh’/ As your shoot across the sky”

(Katy Perry – Firework)

Ouvir o timbre meio anasalado, mas sempre bem trabalhado de Robyn Rihanna Fenty, por outro lado, pode muito bem te mostrar um pouco do que é música pop contemporânea. De cantorazinha de voz peculiar que enfileirou hits esquecíveis em Good Girl Gone Bad, dois anos atrás, ela tomou uma virada na cerreira e mostrou sensibilidade pop notável em Rated R, trabalho que seguia o trend de finais de 2009 ao fazer um som (e uma iconografia) mais sombria funcionar num contexto personalíssimo. É um álbum e tanto, como bem demonstra a excelente Roussian Roulette e a viciante Rudeboy, dois singles mais tocados dessa fase da cantora barbadiana. E é Rihanna nos mostrando que Lady Gaga não é a única grande sensibilidade pop do nosso tempo. Lançado em Novembro, o Loud apenas confirma essa suspeita, com uma coleção de composições versátil, madura, dançante e climática. Destaque para o single Only Girl, para Cheers (que conta com um sample da imortal I’m With You, de Avril Lavigne) e para a bela California King Bed.

“Want you to make me feel/ Like I’m the ony girl in the world/ Like I’m the only one that you’ll ever love/ Like I’m the only one who knows your heart/ Only one…”

(Rihanna – Only Girl)

A lista de destaques femininos do pop fecha com uma veterana: Kylie Ann Minogue mostrou que não está morta (como certa popstar americana) para o mundo pop e pegou a tendência de encher as canções com sintetizadores (trazida de volta pela própria Lady Gaga) para fazer, como sempre, uma obra divertida, agradável e personalíssima. Aphrodite é um álbum tipicamente Kylie, sem grandes destaques, mas uniformemente excelente. E All The Lovers é um dos grandes hinos dance do ano, com seu clipe estranhamente tocante e sua melodia etérea. Enfim, mostra que talento não tem idade, nem nacionalidade. Tem mesmo é poder.

All the lovers that have gone before/ They don’t compare to you/ Don’t be frightened/ Just give me a little bit more/ They don’t compare… to you”

(Kylie Minogue – All The Lovers)

retro musica 2

“Oh Ye-eah!”

É mais raro encontrar uma boa sensibilidade pop para exprimir as particularidades do universo masculino. Talvez por isso, quando uma delas apareça, seja menos reconhecida do que o lado feminino da contenda. O Maroon 5 é assim. Desde 2002 falando de amor perdido, relacionamentos e separação, sempre com um toque se sensualidade, o falsetto dosado e habilidoso do vocalista Adam Levine representa, hoje, o que há de mais completo e empolgante no mundo pop. E Hands All Over é a prova final de que o Maroon, em seu terceiro disco de estúdio, está no seu auge. Talvez por isso, por estar tão bom que “se melhorar estraga”, Levine tenha declarado que a gravação pode ser uma das últimas do grupo. Misery emplacou como um dos hinos do ano, e não foi por acaso: é capaz de empolgar qualquer mortal, e o clipe é sadicamente divertido. E é só esperar um pouco para Give a Little More estar nas rádios mundo afora. É o Maroon fazendo o que sempre fez de melhor: mostrar que é possíver ser divertido, denso musicalmente e bem-sucedido, tudo ao mesmo tempo.

I am in misery/ There ain’t nobody who can comfort me/ Why won’t you answer me/ This silence is slowly killing me”

(Maroon 5 – Misery)

Por falar em diversão, ninguém encarnou melhor esse conceito na música em 2010 do que o Black Eyed Peas. O grupo de hip hop formado por três marmanjos (entre eles Will.I.Am, talvez o grande nome em termos de produção musical do nosso século) e a vocalista Fergie, estourou nas vendas do álbum duplo The E.N.D (Energy Never Dies). Num tempo em que vender CDs é um suplício pelo qual todos os artistas devem passar, o Black Eyed Peas viu seu álbum sair das lojas feito água, e emplacou pelo menos um mega-hit, a já eterna I Gotta Feeling, talvez a grande canção eletrônica do ano. Ser dono de uma das turnês mais vistas e lucrativas do ano também não fez mal para as contas bancárias do quarteto, ou para o prestígio internacional, que se mostrou no lançamento de The Beggining, espécie de “continuação” do álbum anterior. The Time já emplacou, sampleando a famosa trilha-sonora (I’ve Had) The Time of My Life, do filme Dirty Dancing.

Fill up my cup/ Mazal tov/ Look at her dancing/ Just take it off/ Let’s paint the town/ We’ll shut it down/ Let’s burn the roof/ And then we’ll do it again”

(Black Eyed Peas – I Gotta Feeling)

retro musica 3

“Cause they got nothin’ on you, babe” 

2010 viu surgir, um pouco atrasado como membro da classe ‘09 do rap, o americano Bobby Ray Simmons Jr, sob o pseudônimo de B.o.B. Ao mesmo tempo que confirma algumas tendências do estilo nos últimos anos, como a aproximação cada vez mais difusa do R&B entre as influências que governam as novas gravações, The Adventures of Bobby Ray, o disco de estréia, mostra que o rap começa a seguir, aos poucos, uma direção mais pop, razoável e musical nesses novos tempos. Nothin’ on You colou com o refrão romântico, mas foi ao juntar-se com a vocalista do Paramore Hayley Williams em Airplanes que ele sentiu o gosto de ter um dos maiores hits do ano. A canção é uma daquelas com significado universal, ritmo climático e melodia marcante, com uma boa performance vocal de Williams. O bom é que, ao contrário de uns rappers por aí, B.o.B. não precisa se apoiar o tempo todo em alguma muleta-celebridade para criar canções marcantes. Ghost In The Machine, que ainda não é single, mostra que B.o.B. é também, veja só, um cantor que segura as pontas quando precisa. Isso que é versatilidade.

Can we pretend that airplanes in the night sky are like shooting stars?/ I could really use a wish right now, wish right now”

(B.o.B. e Hayley Williams – Airplanes)

Por falar em Nothin’ on You, o parceiro de B.o.B. nesse primeiro single de sua carreira é outro dos mais interessantes estreantes desse ano. Sem forçar a barra em nenhum momento, Bruno Mars foi surgindo devagar no cenário pop desse ano ao firmar, além da parceria com B.o.B., outra com Travie McCoy no sucesso Billionaire. Nascido em Los Angeles há 25 anos e criado no Havaí, Peter Gene Hernandez tem a mão na produção e composição de sucessos recentes como a música-simbolo da última Copa do Mundo, Wavin’ Flag. Mas 2010 trouxe o estrelato para o cantor cujo timbre influenciado pelo soul é descrito pela crítica como um “doador universal” para todos os estilos. É mais ou menos isso que se observa no álbum de estreia, Doo-Wops and Hooligans, que vai sem dificuldade de power ballads que cairiam perfeitamente no repertório de Jordin Sparks a canções de balanço mais soft, quase como se Jason Mraz quisesse soar um pouco mais pop do que já soa. Just The Way You Are, o primeiro single, tem letra deliciosamente clichê e se encaixa na primeira categoria de canções com a assinatura de Mars. Mas muito mais vem por aí.

When I see your face/ There’s not a thing that I would change/ ‘Cause girl you’re amazing/ Just the way you are”

(Bruno Mars – Just The Way You Are)

E pra fechar com um último destaque do hip hop desse ano, não tem como ignorar o barulho que Eminem fez com seu Recovery. Mudado, cada vez mais sério como compositor e afiado na criação de músicas bastante climáticas, Marshall Bruce Mathers III tomou o lugar que lhe pertence, em seu sétimo disco de estúdio, como a voz mais célebre e mais repeecutida do rap no nosso século. Not Afraid foi rapidamente elevado a condição de um dos singles mais improváveis do ano, e Love The Way You Lie colocou Eminem para trabalhar com a força pop mais proeminente desse ano, a bela Rihanna, e criou uma das grandes canções de 2010. A verdade é que Eminem é um rapper, músico e produtor de respeito, que produz em qualidade mais do que em profusão e que consegue fazer propaganda de sua música sem se render as regras do jogo. E ver um outsider chegando onde ele chegou, no topo do jogo do hip hop, é sempre um prazer.

Just gonna stand there and watch me burn?/ That’s alright because I like the way it hurts/ Just gonna stand there and hear me cry?/ That’s alright because I love the way you lie/ Love the way you lie”

(Eminem e Rihanna – Love The Way You Lie)

retro musica 4

“Two steps forward and one step back”

O mundo da música demorou um pouco para acordar em 2010. Talvez por esse atraso que o final do ano esteja sendo tão recheado de surpresas, retomadas e lançamentos empolgantes. A começar pelo esperado terceiro álbum da escocesa KT Tunstall, mais conhecida por Suddenly I See, tirada do álbum de estréia de 2004, Eye to The Telescope. Depois de tomar uma direção mais pop (e mais irregular) no segundo disco, Drastic Fantastic, de 2007, KT segue tentando encontrar um estilo que sintetize todas as suas influências. O som de Tiger Suit é, sem dúvida, pop. E KT sempre foi uma compositora pop e tanto. Agora, com synths, beats e o clima indie a favor dela, consegue criar um álbum consistente, recheado de canções contagiantes entremeadas de pequenas pérolas intimistas que lembram o melhor do indie-electronica do Postal Service ou, se você preferir, do Owl City. Ummanaq Song e (Still a) Weirdo nascem clássicos no repertório da cantora.

So I choose my weapon/ I choose my way/ It’s so easy saying nothing/ When you got nothing to say/ I’m thinking about it everyday”

(KT Tunstall – Fade Like a Shadow)

Quem também chegou de disco novo foi o britânico James Blunt, que cria um som mais upbeat no novíssimo Some Kid of Trouble. O primeiro single, já hit Stay The Night, é co-composto por Ryan Tedder (líder do OneRepublic, autor de Halo e Battlefield, entre outras) e tem harmonia em parte inspirada por Is This Love, do rei do reagge Bob Marley. A voz esganiçada continua a mesma, mas o instrumental passou a ser movido mais pelo violão do que pelo piano, acompanhando bem o clima mais otimista de algumas faixas. Outras mantém a tradição de Blunt de criar peças melódicas e melancólicas que tocam fundo na alma de quem ouve. Há quem ache brega, e há quem mande para o espaço a noção crítica por um momento, só para pensar como um mero ser humano. A escolha é toda nossa. Destaque para a marcante I’ll Be Your Man.

And if this is what we’ve got/ Then what we’ve got is gold/ We’re shining bright and I want you/I want you to know”

(James Blunt – Stay The Night)

Outra surpresa (ou nem tanto) nesse ano foi Brandon Flowers, o líder do The Killers, que resolveu cumprir a profecia que os críticos faziam desde o lançamento do Hot Fuss, álbum de estreia da banda, e se tornar maior que seu próprio empreendimento ao lançar-se em carreira solo. A voz de Brandon já é conhecidamente poderosa em sua forma peculiar, e o estilo de Flamingo mostra que, de fato, muito da identidade do The Killers vem da cabeça de seu vocalista. Mas, ao mesmo tempo, o álbum é Brandon sem limites, brincando com elementos da cultura americana o tempo todo, criando harmonias inusitadas e fascinantemente eficientes em soar pop, incluindo elementos de música africana na faixa Only The Young e criando, do nada, uma canção apoteótica que não precisa de quase nada para sê-lo, em On The Floor. Mas nada bate o country de letra confessional/ narrativa/homenagem The Clock Was Tickin’. É uma das mentes musicais mais empolgantes do século mostrando a que veio. Só nos cabe parar para ouvir.

Only the young can break away, break away/ Lost when the wind blows on your face, oh!/ Only the young can break away, break away”

(Brandon Flowers – Only The Young)

retro musica 5

“There’s a she-wolf in disguise”

Num mundo em constante reformulação como o da música, é missão árdua para um artista tomar uma virada na própria carreira que genuinamente surpreenda. Mesmo porque fazê-lo traz a tiracolo o perigo de a curva não levar a um caminho agradável. Talvez a única que teve tal coragem no nesse ano, Shakira e sua dupla She-Wolf e Sale El Sol enfim concluíram o processo de “americanização” da artista colombiana. Mas resumir tudo a isso não seria fazer justiça a própria Shakira. Inteligente como é, a cantora e compositora realizou uma dupla de albuns intensamente pop, que navega nas mais recentes tendências das paradas de sucesso e até encontra eficiência pelo meio do caminho, como bem Gypsy demonstrou. Mas sacrifica, para isso, a própria personalidade de sua intérprete. Shakira não soa autência uivando e se contorcendo em uma jaula para She-Wolf. É o tipo de apelação dark e agressiva que simplesmente não casa com sua imagem. Não é a toa que o balanço de Waka Waka tenha sido o melhor que ela conseguiu fazer esse ano.

Cause I’m a gypsy/ Are you coming with me/ I might steal your clothes and wear them if they fit me/ Never made agreements, just like a gypsy”

(Shakira – Gypsy)

Quem também tomou uma direção de qualidade duvidosa foi Christina Aguilera. Alguns leitores podem até ter assustado ler tal constatação aqui no Anagrama, que sempre defendeu a cantora, mas é hora de admitir: Bionic não é um disco a altura da artista Aguilera, e há muitas razões para isso. Para começar, porque tenta seguir um trend de forma atrasada e equivocada. Concebido quando a agressividade de Lady Gaga era tudo o que havia para ser notado no pop, Bionic cria canções histéricas e esquizofrênicas, com harmonia falha (erro que Gaga jamais cometeria, ótima compositora que é), e ainda é produzido com descaso e mão pesada. Além disso, utiliza do notável talento vocal de Aguilera da forma errada, no sentido que abusa de suas intervenções gritadas ao invés de criar melodias e climas que façam sua voz brilhar de forma uniforme (como o Back to Basics fez com clara competência). E, por fim, é um disco que segue tantos caminhos que termina sem personalidade e, portanto, sem apelo. Christina definitivamente sabe fazer melhor.

Cause I’m doing things I normally won’t do/ The old me’s gone, I feel brand new/ And if you don’t like it, then fuck you”

(Christina Aguilera – Not Myself Tonight)

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  “You put around your arm around my shoulder/ You made a rebel out of a careless man’s careful daughter/ You are the best thing that’s ever been mine”

(Taylor Swift – Mine)

You and your heart/ Shouldn’t feel so apart/ You can choose what you take/ Why you gotta break and make it feel so hard?”

(Jack Johnson – You And Your Heart)

2 comentários:

Oráculo disse...

Muito legal esse post \o

Oráculo disse...

adorei esse post \o

www.harmoniaemamarelo.blogspot.com