27 de dez. de 2010

JOGO RÁPIDO–“À Prova de Morte” + “The Runaways”

critica (nunk excl)jogo rapido tarantino 1

À Prova de Morte (Death Proof, EUA, 2007)

Uma produção da Dimension Films/ Troublemaker Studios…

Dirigido e escrito por Quentin Tarantino…

Estrelando Kurt Russell, Zoe Bell, Rosario Dawson, Sydney Poitier, Rose McGowan, Mary Elizabeth Winstead, Quentin Tarantino, Eli Roth…

114 minutos

Aos poucos, de mansinho, o plano de dominação mundial de Quentin Tarantino se mostra cada vez mais eficiente. Pulp Fiction pode ter aberto as portas do cinema para a cultura pop, e Kill Bill pode ter mostrado que violência e inteligência podem caminhar juntos quando o homem por trás da câmera é Tarantino. Mais recentemente, Bastardos Inglórios tornou o cineasta em uma marca e o firmou como descobridor de novos talentos (Christoph Waltz, claro) e cineasta competente tecnicamente. Pois se o filme dos nazistas mostrava que ele pode funcionar bem sem toda a regurgitação de cultura pop, À Prova de Morte é um respiro do velho Taratino, aquele que conseguia construir personagens interessantes e humanos do nada, aquele que fazia o exagero parecer mera conseqüência da dramaturgia, aquele que produzia as noites mais divertidas do cinema moderno. Não desmerecendo Bastardos, mas se o seu negócio é mesmo entretenimento, não hesite um segundo em tirar À Prova de Morte da prateleira.

Para começar, é preciso deixar claro que, em À Prova de Morte, nada é por acaso. A imagem riscada, a música exagerada e os personagens caricatos que aos poucos ganham profundidade à maneira particular do cineasta, tudo é feito para criar, na medida, uma produção tão moderna e relevante para linguagem cinematográfica atual quanto propositalmente analógica. E é preciso entender que a história de Stuntman Mike (Kurt Russell divertindo a si mesmo e ao espectador), um amigável coroa num mundo povoado por jovens sem estribeiras que na verdade é um serial killer dotado de um carro indestrutível, foi escrita para não parecer real. É uma homenagem mais do que clara ao cinema trash que funciona muito bem como filme e como diversão, com Tarantino mais habilidoso do que nunca nos enquadramentos, Rose McGowan no auge do sex appeal e a jovem Sydney Poitier (filha do ganhador do Oscar Sidney) explodindo em tela com uma atuação brilhante na pele de sarcástica Jungle Julia. Para ver e sair dizendo: foi uma noite e tanto!

Nota: 8,0

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The Runaways – Garotas do Rock (The Runaways, EUA, 2010)

Uma produção da River Road Entertainment…

Dirigido e escrito por Floria Sigismondi…

Estrelando Kristen Stewart, Dakota Fanning, Michael Shannon, Stella Maeve, Scout Taylor-Compton, Alia Shawkat, Tatum O’Neal…

106 minutos

Contexto rápido: a The Runaways é considerada uma das bandas de rock mais importantes de todo o cenário musical dos anos 1970, e tal rótulo deve-se em grande parte ao fato de o grupo formado por Joan Jett, Cherie Curie, Lita Ford e compania ter sido o primeiro grande ato rock formado apenas por garotas a ascender ao sucesso. Não parece, mas como bem assinala a figura pitoresca do produtor das garotas, o maluco Kim Fowley (Michael Shannon), em certo momento de The Runaways, o filme, na época os homens gostavam de mulheres “na cozinha ou de quatro”, e em nenhum outro lugar, “muito menos num palco segurando guitarras”. É um universo de cores muito fortes, portanto, que a italiana Floria Sigismondi habilmente retrata em seu filme, trazendo do mundo dos videoclipes um cuidado apuradíssimo com o visual, tamanho que às vezes até deixa a pare dramatúrgica do seu trabalho como roteirista em segundo plano. É nesses momentos que The Runaways deixa a desejar como cinebiografia, e é aí que o filme passa a depender, numa condição de vida ou morte, de seu elenco.

Especialmente da dupla principal, Dakota Fanning e Kristen Stewart. A primeira mostra amadurecimento incrível como Cherie Curie, cravando uma atuação concentrada e intensa como nos acostumamos a esperar por ela, mas enfim colocando todo esse talento em favor de um papel que exige nuances e detalhes de uma psique adulta. Ainda é um choque ver a Dakota que vimos crescer andar por aí de espartilho, ou mesmo se atracando com Kristen Stewart, mas não deixa de ser admirável sua ousadia e seu talento. Por falar em Kristen, ela cumpre bem com seu papel de Joan Jett, deixando claro que vai muito além, como atriz, do que a Bella de Crepúsculo a exige. É no seu carisma que, muitas vezes, o filme se apóia. Por fim, Michael Shannon compõe um nojento, adorável e excêntrico (tudo ao mesmo tempo) Kim Fowley, mostrando porque a indicação ao Oscar em 2008 não foi a toa. É confiando nesse elenco, enfim, que The Runaways prova seu valor. Assim como qualquer banda, no final das contas, precisa confiar no carisma de seus integrantes.

Nota: 7,0

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“Que merda! Que merda! Rock n’ roll é um esporte sangrento, um esporte de homens! É para as pessoas no escuro, para os gatos mortos, para os excluídos que não tem voz nenhuma para dizer que odeiam esse mundo, que seus pais são viadinhos, que se foda toda a autoridade, que se foda todo mundo – que querem um orgasmo! Agora, vamos, creçam! Gemam! Essa não é a liberação das mulheres – é a libido das mulheres! Eu quero ver os arranhões nas costas deles! Agora, façam de novo. De novo. Como se seu namorado tivesse acabado de transar com sua irmã na cama dos seus pais. Como se vocês quisessem um maldito orgasmo!”

(Michael Shannon em “The Runaways” – ‘suavizado’, acreditem ou não)

3 comentários:

Igor Pinheiro disse...

Gostei muito do Planeta Terror, mas sempre esqueço de ver À Prova de Morte, sei lá, parece que falta motivação.
Tenho muita vontade de assistir The Runaways, principalmente por conta da Kriste Stewart, sempre gostei dela como atriz, desde Quarto do Pânico. E muito bom essa fala citada do final suavizada. hahaha Vou correr atrás pra assistir.

Mateus Souza disse...

Achei bem fraco o À Prova de Morte. Se não fossem as cenas finais de cada segmento, o filme seria uma grande chatice.

Rubens Rodrigues disse...

Aluguei The Runaways com medo de ter uma bomba em mãos e demorou um pouco até que o filme me convencesse do contrário.

Foi quando Dakota entrou no trailer para fazer a audição para a banda que eu percebi que o filme valia a pena.

Primeiro porque foi um choque ver a garota cantando aquelas letras, vi como ela seria ousada dali pra frente. E depois que Kristen Stewart, que eu achava patética, mostrou que é uma atriz de verdade.