13 de set. de 2010

Todo mundo que vale a pena conhecer – Três novos talentos do cenário musical

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Adam Lambert – For Your Entertainment

Ok, alguns esclarecimentos a fazer aqui, só para começar. Sim, a capa reproduzida acima é muito provavelmente a mais infeliz que um artista pop conseguiu produzir na nossa década, quiçá em toda a história da música. E sim, o americano Adam Lambert, grande destaque da 8ª temporada do American Idol, é abertamente gay. Acontece que nem uma coisa, nem outra, apaga o incrível talento vocal desse indivíduo de 28 anos, nascido no coração dos Estados Unidos, influenciado por David Bowie e Queen para criar um pop-glam que toca fundo na percepção do público desde que Lady GaGa abriu as portas desse “novo” estilo para o mundo das grandes gravadoras. Inegável que, sem o sucesso que ela fez, ele não teria toda a oportunidade que está tendo para ser teatral, exagerado, performático e acrobático como demonstrou na apresentação do single “For Your Entertainment”, homônimo de seu álbum de estréia, no AMA desse ano.

Álbum esse que conta com convidados especialíssimos na composição para criar uma coleção de canções de estreia sólidas e convincentes, mas raramente espetaculares. Acontece que há muito pouco, além da voz, de Lambert nesse disco. Seu nome só aparece nos créditos de 4 das 14 faixas, e quase todas as canções assinadas por performers mais célebres acabam saindo com a cara e a personalidade deles, e não de Lambert. “Music Again” (assinada por Justin Hawkins) só precisa de um pouco mais de falsete para ser uma música do The Darkness. “Whataya Want From Me” leva a marca confessional e rocker de P!nk, e até a “Pick U Up” que Rivers Cuomo compôs em parceria com o próprio Lambert acaba soando como se o Weezer tivesse trocado de vocalista e resolvido adotar um instrumental pop. Lambert só mostra sua personalidade musical em “Strut” e na melódica “Sleepwalker”, mais uma tremenda composição de Ryan Tedder, o líder do One Republic e donos dos créditos de hits de Beyoncé, Kelly Clarkson e Rihanna, entre outras.

Não por acaso, aliás, uma das melhores canções do álbum é “Fever”, que leva a assinatura, veja só, da própria Lady GaGa. A aprovação dela, ele já ganhou, ao que parece. Para conquistar a minha, ao menos totalmente, vai precisar mostrar mais de si mesmo e menos de sua produção. Mas está definitivamente no caminho certo. E com certeza vale a pena ser ouvido.

*** (3/5)

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Paloma Faith – Do You Want the Truth or Something Beautiful?

Você pode até nunca ter ouvido falar de Paloma Faith, e não é tão improvável que jamais tenha conhecido sua impressionante voz. Ao mesmo tempo, o rosto dessa britânica de 25 anos pode-lhe ser um pouco familiar. Acontece que, além de cantora e compositora, Paloma é também atriz. Seu papel mais notável até hoje foi ao lado de Heath Ledger e comandada por Terry Gilliam no recente O Imaginário do Doutor Parnassus, que chega às locadora ainda nesse mês, com quase dois anos de atraso. Performática e teatral como está na moda nas paradas musicais, Faith traz o verniz do profissionalismo inglês para seus temas, seu vocal e sua apresentação ao vivo, hoje uma das mais disputadas e interessantes de se conferir por aí.  Na Internet ela fazia dueto com o artista indie Josh Weller na divertida “It's Christmas (And I Hate You)”, composição agridoce dele que ganhou brilho com a voz dela.

Tomou banho de produção e encarou temas mais fortes, sempre com a veia mezzo bem-humorada mezzo romântica que Weller lhe ensinou, nesse espetacular Do You Want The Truth or Something Beautiful?, nome que pegou emprestado de uma das canções mais climáticas e interessantes de um disco cheio delas. Escolhida como o terceiro single do álbum, “Do You Want the Truth…” só perde o posto de melhor hit dessa obra de estreia porque “New York” vem lhe roubar o posto. Com clipe bem-produzido, performance vocal impressionante e o arranjo mais crescente e apoteótico do disco, a canção se destaca como um clássico contemporâneo, uma melodia para ser assoviada e sentida no fundo da alma. Mas não acaba por aí. Faith não se esqueceu de como ser divertida, e nos mostra isso em “Stone Cold Sober” e “Upside Down”, duas canções que podem render muitas comparações entre ela e artistas como Amy Winehouse e Duffy. Já que entramos no assunto, aliás, vale destacar: em comum, as três só tem o timbre, e isso fica claro na personalíssima “Play On”, uma pérola de climatização e drama. Uma vez atriz…

Paloma combina o que há de melhor em seus talentos musicais e dramáticos para incutir alma, personalidade, tragédia e humor na medida certa em cada faixa do seu álbum. Vai parecer meio irônico, para uma cantora que clama “don’t tell me romance is dead” em uma das faixas, mas há muito tempo que uma artista não me deixava tão completamente… apaixonado.

***** (5/5)

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B.o.B. – The Adventures of Bobby Ray

Vamos deixar uma coisa bem clara: normalmente, rap não faz parte do meu repertório. Não sinto o apelo dos versos gangsta de Snoop Dogg ou 50 Cent, muito menos das odes egoístas que às vezes me parecem dominar as investidas de Jay-Z. Acontece que, não tão frequentemente quanto eu gostaria, a Billboard sabe abrir as portas de nossa percepção e nos lembrar que, não importa o estilo de música, sempre haverão bons e maus representantes. E eis que “Nothin' on You” cruza meu caminho num dia desses, com seu refrão doce entoado por Bruno Mars e os versos atípicos de um tal B.o.B., a parte atrasada da chamada “classe ‘09” do rap, que nos trouxe também Kid Cudi e Asher Roth. Com o selo do veterano T.I. na produção, o rapper, cantor, multi-instrumentista e produtor Bobby Ray Simmons mostrou ao mundo uma versatilidade inesperada nesse The Adventures of Booby Ray e, de quebra, quebrou um pouco do meu próprio preconceito.

Acontece que B.o.B. não se furta dos maneirismos do estilo ao qual pertence, mas introduz alguns elementos próprios que denotam uma personalidade mais, digamos assim, tradicionalmente musical do que a maioria de seus companheiros. Verdade que, sozinho, ele encara apenas 4 das 12 faixas do seu disco de estréia, contando com a parceria de gente de estirpe para montar, aos poucos, um conjunto não extraordinário, mas ao menos agradável aos ouvidos. Para além de “Nothin’ on You”, temos a participação eficiente de Hayley Williams, aparentemente melhor aqui do que no próprio Paramore, na intensa e emocional “Airplanes”, dona de um refrão viciante, uma produção sofisticada e versos escritos com esmero. A abordagem mais tradicional do rap em “Bet I” agrada menos, mas não estraga a surpresa que é “Ghost in The Machine”, provavelmente a canção de rap mais verdadeiramente musical dos últimos tempos. O disco ainda reserva a quem tem paciência as divertidas “Magic” (ao lado de Rivers Cuomo, do Weezer) e “The Kids”, com Janelle Monàe, a mais recente mania da música americana.

Enfim, a gravação de estréia de B.o.B. é definitivamente promissora, demonstrando um artista completo, que sabe os limites de seu estilo e quando ultrapassá-los, que tem faro de produtor de primeira para o que pode colar nas paradas atuais e, por cima de tudo, ainda nos mostra que o rap pode, ainda, ser uma música que agrada aos ouvidos. Ah, como é bom ser surpreendido!

**** (4/5)

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As performers femininas estão fazendo isso há tempos - ‘abrindo o envelope’ da sexualidade – e no momento que um homem o faz, todo mundo pira. Estamos em 2009 – é tempo de correr riscos, ser um pouco mais corajoso, tempo de abrir os olhos das pessoas e, se isso as ofender, então talvez eu não seja para elas. Meu objetivo não é irritar as pessoas, e sim promover liberdade de expressão e liberdade artística”

(Adam Lambert, em entrevista a Rolling Stone)

Meu estilo vocal combina com o tema do meu álbum. É sobre a condição humana, a constante busca por amor e companhia. Eu atirei meu coração a muitos homens errados, em minha época, eu posso lhe dizer. Sou a rainha da tragédia. Melancolia informa tudo o que eu faço”

(Paloma Faith, em entrevista a Q)

3 comentários:

Fabio Christofoli disse...

Gosto muito de posts assim, que apresentam novidades no mundo musical. Apesar de termos todas as facilidades da internet, parece que sempre estamos cercados pelos artistas de sempre.
O primeiro me lembrou o Serginho do BBB, pelo menos no estilo. Sou um pouco contra esses artistas qe querem mais chamar atenção para seu visual do que para sua música. A Lady Gaga faz um som ótimo, a considero a nova Madona, mas acho que ela está me cansando com suas tentativas de aparecer a todo custo. Olha eu fugindo do tema do post.
Gosto muito de hip hop, me considerava uma autoridade até uns 4 anos atrás. Sabia e conhecia praticamente todos artistas que eram lançados e as lendas do estilo. No entanto, essa nova geração repleta de superficialidade, que adota equivocadamente conceitos antigos para "causar", me decepicionou demais. O própior Kanye West, que eu considerava o gênio da década me decepicionou muito no último álbum, aliado a sua postura egocentrica na vida pessoal.
Enfim, estava descrente no rap, mas vou dar uma chance a sua indicação.
Eu tinha paciência para entrar na lista da Bilboard e procurar novidades, mas ela sumiu. Se achar me avisa!

Abraço

Anônimo disse...

Adorei as dicas, vou dar uma conferida ;D

Bjo Caio, saudades de vc.

http://docesinstantes.blogspot.com

Rubens Rodrigues disse...

Eu acompanhei a trajetória do Adam Lambert no AI e eu esperava que ele trilhasse um caminho diferente. As performances que ele fez de músicas do Queen, por exemplo, foram fantásticas. Mas, ele acabou virando uma espécie de versão masculina da Britney Spears. A diferença é que ele canta bem.