22 de set. de 2010

Substantivos, por Caio Coletti

reflexão (nunk excruir) substantivos 3

Um eco…

Ecos. Momentos perdidos de um dia qualquer, quando as preocupações eram outras e o mundo girava mais devagar. Hoje, mesmo agora, como a caneta que voa pelo papel, ele corre. E minha mente protesta, meu corpo grita de dor enquanto tenta acompanhá-lo. Quando me dou conta de que não posso mais, afinal, o que me resta? O futuro não espera por quem desiste da corrida, e o presente que se renova a cada segundo me parece dolorosamente idêntico ao anterior. Resta-me o passado. Glorioso? Pouco provável. Dourado? Diante de meus olhos, talvez. Mas, inevitavelmente, passado. Um eco que não pode voltar a ser o que foi. Não agora, nem nunca. Não comigo, nem com ninguém. Só passado.

Um movimento…

Preciso me mover. E o que me move é a emoção. Não a emoção da adrenalina, o fato fisiológico, mas a emoção sutil e essencialmente humana que, aos poucos, constrói reinos inteiros feitos de poeira e ar. Impuros, frágeis, absurdamente falhos em projeção e execução, a todos os momentos suscetíveis a uma guerra, uma mudança, um distúrbio súbito de qualquer natureza que podem o trazer a baixo. Mas como um dia eles desmoronariam, se nunca chegassem a ser construídos? A derrocada é mero subproduto da glória, disso ninguém pode mais discordar. E é o movimento que leva a ambas. Movimento racional, emocional, físico e comportamental. Movimento por inteiro.

Um momento…

Em quantas frações nós, tão senhores do tempo, o fazemos? O quão presunçosos somos, nesse sentido? E o quanto conseguimos realmente compreender da duração de um segundo? É pouco, muito pouco, o que sabemos, e ainda assim contamos: os dias, os meses, as semanas, os anos, as horas, os minutos. As vidas. Contamos. E o quanto é contar, em meio a complexidade infinita de tudo o que nunca saberemos de nosso próprio ser, e mais ainda, de nosso próprio mundo? Nada.

Está feito, agora. Ninguém ousaria desfazê-lo, e não é isso que eu peço. Mas que ao menos comecemos a admitir que o nosso castelo é de papel, e nosso torno de algodão. Levemente repousados nele, como estamos, qualquer perturbação dessas inconstantes imaterialidades ao nosso redor pode nos derrubar. Tudo no instante ínfimo de um momento. Desses que provocam ecos que reverberam dolorosos na cabeça de quem ouve, e desses que incitam, enfim, o temido movimento.

Que ele não venha tarde demais!

substantivos 2 subtantivos 1

Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito que tens de dizê-las”

(Voltaire, filósofo iluminista francês)

2 comentários:

Fabio Christofoli disse...

Caio, é impressionante a sua capacidade de escrita. Supreende mais quando eu penso que vc é tão novo e eu com sua idade mal sabia fazer uma redação para a escola (aquela de 30 linhas, com introdução, desenvolvimento e conclusão).
Teu vocabulário e o cuidado com a pontuação são incríveis, sem falar da criatividade e dinâmica dos textos.
Isso indica que você lê muito, algo que eu comecei tarde, só depois de um professor me contar que esse era o segredo do 1º colocado no vestibular da faculdade federal, em 2002.
Parabéns pelo texto...

Babi Leão disse...

Fazia tempo que nao passava aqui! Mas, noooooossa ! Quanta coisa bonita eu perdi!
Esse texto , por exemplo, tão humano ("Movimento racional, emocional, físico e comportamental. Movimento por inteiro."). Muito bonito mesmo e essas fotos ficaram perfeitas perto dele!

Beijos! :D