16 de mai. de 2016

Review: “O Caçador e a Rainha do Gelo” só economiza onde não poderia – no roteiro

hunts

por Caio Coletti

Há um momento em O Caçador e a Rainha de Gelo, um glorioso momento, em que Charlize Theron, no papel da rainha má Ravenna, “deixa escapar” uma gargalhada que qualquer espectador sentado em uma sala de cinema só pode receber de um jeito: abrindo um largo sorriso de reconhecimento. A risada maligna de Theron é tão estereotípica, e ainda assim tão deliciosamente executada, que é impossível não acordar do coma em que o restante de O Caçador e a Rainha do Gelo coloca o espectador e deitar e rolar na interpretação da moça. Não é novidade que Ravenna, ou Charlize, é a melhor parte dessa continuação de Branca de Neve e o Caçador – afinal, ela era também a melhor parte do primeiro filme –, mas é novidade vê-la como um holofote brilhante iluminando os momentos que ela entra em cena em meio à total escuridão e bagunça de tudo que a cerca.

Esqueça a campanha publicitária, porque essa não é exatamente a história que precede Branca de Neve e o Caçador – ao invés disso, ficamos conhecendo um pouco do passado do Caçador (Chris Hemsworth), seu treinamento nas mãos da rainha gelada Freya (Emily Blunt), irmã de Ravenna, que se tornou a poderosa feiticeira do gelo após ter seu coração partido pelo amado. Uma das regras de Freya é que seus assassinos não podem se apaixonar, daí a punição do Caçador e Sara (Jessica Chastain), a esposa morta que ele cita no primeiro filme. Anos mais tarde, depois dos acontecimentos de Branca de Neve, o Caçador deve voltar ao reino de Freya para realizar alguma missão para a rainha. No interesse de sinceridade, este que vos fala não se lembra detalhes da trama que leva o Caçador para as garras da rainha gelada, quão patético e esquecível é o roteiro de Evan Piliotopoulos (Hércules) e Craig Mazin (Todo Mundo em Pânico 4).

Chris Hemsworth entrega o que mal é uma performance no papel principal, enquanto Jessica Chastain é criminalmente mal-aproveitada. A ideia de alívio cômico do filme é tirar sarro dos anões, especialmente Nion (Nick Frost), e montar uma trama romântica sinceramente ofensiva entre eles, o que desperdiça as aparições de Sheridan Smith e Alexandra Roach, outras duas talentosas mulheres do elenco. As cenas de ação tampouco são capazes de empolgar. No fim, é tudo desculpa para nos mostrar mais alguns momentos de glória de Theron, vestida espetacularmente nos figurinos ousados de Colleen Atwood e filmada com reverência quase religiosa pelo diretor de fotografia Phedon Papamichael – nos minutos em que ela está em tela, funciona, porque Charlize prende o espectador em uma rede quase hipnótica, mas, como diria aquela música dos anos 2000: too little, too late.

Crédito seja dado onde ele merece, no entanto, pelo menos o filme tenta criar uma espécie de “substituta” para a ausência de Ravenna na primeira metade do filme, através de Freya de Emily Blunt. A atriz britânica está excepcional como sempre foi, criando uma figura trágica e gélida, em constante agonia, que impõe medo tanto pelo que representa quanto pelos poderes que tem. Dentro dos arquétipos terrivelmente ultrapassados em que estão presas, e esse é um filme em que toda mulher em posição de poder é retratada como fraca ou maligna, Blunt e Theron brilham pela própria obstinação que tem em brilhar. Observar o dueto entre duas de nossas melhores atrizes em atividade é empolgante, e quase vale o valor do ingresso – mas só quase.

✰✰ (2/5)

Huntsman

O Caçador e a Rainha do Gelo (The Huntsman: Winter’s War, EUA, 2016)
Direção: Cedric Nicolas-Troyan
Roteiro: Evan Spiliotopoulus, Craig Mazin
Elenco: Chris Hemsworth, Charlize Theron, Jessica Chastain, Emily Blunt, Nick Frost, Sheridan Smith, Alexandra Roach, Sam Claflin
114 minutos

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