6 de ago. de 2014

Quando nossa opinião não vale nada

over-inflating-your-opinion

por Fabio Christofoli

Até pouco tempo atrás, emitir uma opinião era luxo para poucos. O século anterior foi conturbado, cheio de guerras, ditadores, paranoias nucleares e outros tipos de opressão. Ironicamente, esses eventos possibilitaram o desenvolvimento acelerado de potentes tecnologias comunicacionais. Praticamente todo meio de comunicação em massa surgiu ou se desenvolveu para a guerra ou espionagem.

Naturalmente, o interesse da população por comunicação também se desenvolveu. E de uma forma espantosamente rápida nossa cultura mudou radicalmente. Ou melhor. ESTÁ mudando. De uns anos pra cá, não nos contentamos em sermos passivos na comunicação. Primeiro ouvíamos rádio e televisão. Depois vivemos o início da internet com sites e blogs ainda precários, mas que permitiam que falássemos. Hoje temos um público potencialmente gigantesco nas redes sociais.

Aí começou a bagunça.

De uma hora pra outra as pessoas perceberam que eram vistas. Um like aqui, um comentário ali. Despretensiosamente pessoas desconhecidas ganhavam fama com virais. Reações que dão a sensação de que o que falamos ou produzimos é importante. Mesmo que sejamos xingados, não importa. Se alguém viu, é porque foi relevante. Aí você soma essa situação com outra realidade: somos cada vez mais carentes. Ou éramos antes também, mas não sabíamos ou tínhamos menos formas de chamar atenção. E se somos mais carentes é porque estamos mais confusos sobre o que queremos, afinal, quantas opções, caramba!

E nessa onda por atenção, surge um fenômeno muito chato: a mania de opinar sobre tudo.

Aí você pausa a leitura e pensa: “seu bosta, esse seu texto é sobre opinião, logo é uma opinião”. Sim, verdade, mas em hipótese alguma sou contra o direito de opinar. Sou apenas contra a mania de ter uma opinião sobre qualquer coisa.

Há dois pontos importantes para que eu fale isso.

  1. É difícil pra caralho você ter a capacidade de opinar sobre qualquer coisa. Antes de tudo, ter opinião é uma grande responsabilidade. Você não precisa estar certo, mas você é obrigado a saber sobre o que está falando – e saber não envolve saber tudo e sim ter uma boa base.
  2. Ao dar uma opinião você tem que estar preparado para receber outras e, talvez, mudar a sua. Convicção é diferente de teimosia. E muita gente que opina por aí se fecha pra qualquer argumento. Volta e meia leio “o Facebook é meu e eu falo o que eu quiser”. Cara, se você não quer que alguém rebata, guarda pra ti. Sério.

E eu falo isso com propriedade, porque logo que eu entrei nas redes sociais abertas (Twitter e Facebook), eu sentia a necessidade de falar sobre tudo. Sim, eu era esse babaca. Até que um dia eu parei pra ver que muitas vezes eu não tinha certeza do que eu estava falando e que estava falando besteira. Que muitas das minhas opiniões eram baseadas em impressões que eu tinha, não em coisas que eu sabia. Hoje, depois de pegar muito mico, procuro só falar do que eu consigo entender. Senão eu só leio ou escuto.

000_nic6358320Palestinos voltam para casa ontem (05) após início da trégua humanitária de 72 horas entre Israel e Palestina

Por exemplo, eu não sei muita coisa sobre o conflito da Faixa de Gaza. É complicado para mim opinar sobre o fato, mas gosto de ler e escutar quem sabe. Mas faça um teste. Abra qualquer notícia de lá que tenha espaço para opinião. Logo você encontra um monte de gente opinando de forma bem superficial e aleatória.

Essas opiniões são baseadas no quê? Em um infográfico feito às pressas? Em uma ou outra reportagem? Em um livro resumido do colégio? A pessoa pra falar sobre Gaza, das duas uma: tem que ter lido muito sobre o fato (estudado mesmo) ou tem que ter vivido aquela realidade. Claro que você pode ter uma impressão sobre o que acontece, e baseado no que conhece pode emitir alguma ideia.

No meu caso, a única opinião formada que tenho é que sou contra qualquer conflito armado, principalmente aquele que envolve morte de inocentes (algum não envolve?). Porém, estou distante de entender esse conflito e de falar alguma coisa sobre A ou B.

Seria perigoso eu falar sobre o Hamas ou Israel, pois eu falaria sobre algo que não sei. É perigoso falar por falar, pois ao fazermos isso apenas propagamos a ignorância, não acrescentando NADA ao que é discutido. Por incrível que pareça, nossa opinião nem sempre é necessária.

Claro que opinar é um direito de todos, não quero de forma alguma dizer que as pessoas devem se calar. Só que foi tão difícil ganhar esse direito (e nem todos no mundo o tem) que me indigna ver como estamos usando de forma errada (me incluo nessa muitas vezes). Mais uma vez sublinho que é preciso ter consciência do que se diz. Afinal, usar palavras vazias não é mesma coisa que dizer nada? Em minha opinião, sim.

000_nic6358380Soldado israelense posa para foto na fronteira com Gaza

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