30 de jul. de 2010

Pequeno Monstro, por Caio Coletti

reflexão (nunk excruir) pequeno monstro 1

Um monstro. Pequeno, simplório, quase insignificante seria, se de fato não o fosse. Um, só um, mas não apenas mais um. Um que remava contra a corrente e não tinha medo de ver suas visões indo na direção contrária a das marés. Se os princípios que escolhera para si estivessem puxando-o para o fundo, como uma âncora, ele iria com eles? Morrer (de forma literal ou figurada, ao gosto e a graça do leitor) como alguém que viveu de forma diferente ou continuar vivendo, pagando o preço de se juntar a massa uniforme quando não se pertence, de verdade, a ela? Aí estava a questão.

Ou não. Talvez a questão de fato fosse se valia a pena viver como apenas mais um dente na engrenagem em eterno movimento, de pops e modinhas, convenções e preconceitos. Quem sabe, indo ainda mais longe, fosse melhor perguntar: o que é, verdadeiramente, SER humano? Por completo, por inteiro, sem concessões? É ser uma eterna contradição, uma constante oposição de ideais e conceitos e ter liberdade para escolher entre eles, sem influências (e, ainda assim, inevitavelmente influenciados pelo meio que nos cerca) ou pressões, que acabam nos fazendo optar pelo caminho mais fácil, nem sempre (ou quase nunca) o mais verdadeiro. É poder ver, fazer, acreditar, experimentar, descobrir, criar, conhecer, procurar, ler, comer, beber, desejar o que, como, quando e onde quiser. É ter a liberdade de ser o que é, sem amarras e sem fingimentos.

É poder discutir com elegância e racionalidade das coisas mais banais as mais fundamentais. É perceber que não existe verdade absoluta alguma e, portanto, que ninguém é dono dela. É saber aprender e expandir sua visão sobre algo com a opinião do outro. Não adotá-la como sua (necessariamente), mas respeitá-la e perceber como é BOM conhecer um mundo fora de sua mente, de sua visão inevitavelmente estreita enquanto permanecer fechada em uma caixa impenetrável de ignorância intencional.

Tudo isso é SER humano. Esdrúxulo. Liberal. Lógico demais para você? Talvez estranho. Aberto. Assustador o bastante para parecer um monstro. Pois que seja, então. É preferível ser um pequeno monstro, virtualmente morto para a sociedade e, ainda assim, extremamente vivo para cada detalhe brilhante do mundo ao seu redor, do que um auto-proclamado humano que não é nada disso nas linhas acima. Quase super-ativo de tão encaixado nos padrões, mas inexoravelmente entorpecido para as sutilezas e belezas de sua própria humanidade.

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Obrigado a todos vocês, pequenos monstros! Este ano, vocês foram indicados a cinco Grammy Awards! Se não fosse por vocês, eu não estaria aqui. Mas agora vamos celebrar, e a verdade é que existe apenas uma coisa que o mundo realmente odeia, vocês sabem qual é? A verdade! Vamos mostrar nossos dentes para eles!”

(Gaga fala aos fãs em Boston, antes de sua performance de “Teeth”)

1 comentários:

Anônimo disse...

Arrasou no texto Caio, simplesmente adorei sua sinceridade. Parabéns amigo, vc se supera a cada postagem.

Bjos doces pra vc;**