6 de mai. de 2015

As melhores atuações femininas não indicadas ao Oscar dos últimos 10 anos (2005-2015)

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por Caio Coletti

Esses dias eu estava passeando pelo meu próprio Filmow (eu sei que você também se stalkeia nas redes sociais, não adianta fingir!) e me dei conta do monte de atuações brilhantes que eu vi nos últimos 10 anos de cinefilia. E me dei conta também da quantidade pequena delas que havia sido indicada ao prêmio-maior do mundo cinematográfico, ou ao menos o que tem maior visibilidade – o Oscar distribuído todos os anos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas americana ignorou sistematicamente (ou quase indicou) todas essas interpretações aí embaixo, e como a lista original tinha dado quase 30 rankeados, decidi dividí-la em dois posts. Ladies first, é claro:

2013

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Emma Thompson, por Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Apesar do título brasileiro infeliz, o filme de John Lee Hancock (Um Sonho Possível) sobre a produção do quinquagenário clássico infantil é um belo drama sobre o poder do ato de contar histórias, desenhado com arcos de personagem redondinhos pelo roteiro. Nada no filme consegue eclipsar, no entanto, a brilhante atuação de Emma Thompson como a autora dos livros que deram origem ao clássico da Disney – nem mesmo a encarnação carismática do velho Walt feita, em uma decisão de casting perfeita, por Tom Hanks. Fiel ao espírito da personagem, que protege sua criação com unhas e dentes devido ao caráter ultra-pessoal que a babá mágica tem para ela, Thompson aparece com um timing cômico perfeito, e a expressão severa que não cede em nenhum momento do filme. Sutil, a atriz esconde nos momentos mais improváveis a vontade da sua P.L. Travers de se livrar da descrença que os traumas do passado lhe trouxeram, e acerta em cheio ao retratar a reação da autora ao ver o filme produzido por Disney pela primeira vez.

Poderia ter acontecido? Apesar do bom buzz em torno do filme, o Oscar acabou indicando-o apenas como Melhor Trilha-Sonora, mas Thompson entrou na lista do Globo de Ouro como Melhor Atriz – Drama, então as chances eram boas.

Já ganhou? No auge dos dramas britânicos de época, Thompson ganhou uma estatueta pela atuação em Retorno a Howards End (1993) e outra por escrever Razão e Sensibilidade (1996). Ela não foi indicada nenhuma vez desde então.

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Naomi Watts, por Diana

Bombardeada de críticas, a biografia da princesa britânica comandada por Oliver Hirschbiegel (A Queda) é um filme que precisa ser redescoberto daqui a alguns anos, quando a febre pela exatidão biográfica passar. Sensível, fascinante e com uma performance central hipnotizante, é um filme muito melhor conduzido e narrado do que a maioria das críticas fez parecer – de qualquer forma, mesmo os detratores mais pesados da obra deveriam ter reconhecido o trabalho magistral de Naomi Watts na pele da Princesa Diana. Não só fisicamente parecida, mas incorporando a forma de falar, olhar e se portar da personagem histórica, a atriz junta todos esses maneirismos em um retrato compreensivo. A Diana de Watts é adoravelmente tímida, mas a atriz deixa claro que também existe um elemento de auto-proteção e mistério nessa timidez, não só o recato da realeza ou a humildade pela qual Diana foi particularmente conhecida. A maior virtude da performance da atriz, no fim das contas, é entender que a princesa deve continuar sendo um enigma para o espectador e para quem contracena com ela.

Poderia ter acontecido? A partir do momento em que o filme estreou sob uma chuva de críticas, não. O Oscar nunca vai tão categoricamente contra o consenso crítico sobre um filme. Dito isso, o buzz em torno de Watts antes da estreia do filme era considerável.

Já ganhou? As escolhas mais convencionalmente acadêmicas de Watts nos últimos anos tem trazido ela mais perto do Oscar – ela tem duas indicações, por 21 Gramas (2004) e O Impossível (2013), mas ainda falta ganhar um.

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Scarlett Johansson, por Ela

Yes, we’re going there! O Oscar ainda não arranjou um jeito de reconhecer atores por métodos de atuação que não sejam a presença live action em frente a uma câmera (existem partidários da criação de uma categoria de dublagem no prêmio da Academia, então vamos aguardar), mas de qualquer forma é difícil não admitir a genialidade da performance de Scarlett Johansson em Ela, uma das melhores ficções científicas do século XXI. Aparecendo apenas em voice-over, a atriz voltou à melhor forma do começo da carreira, começando uma série de investidas na ficção científica que fez muito bem à carreira e ao prestígio de Scarlett entre os críticos. Brincando com o status de sex symbol e, ao mesmo tempo, colocando sub-tons contestadores, uma vontade de aprender quase infantil e, conforme o filme progride, uma incontestável sabedoria na voz de Samantha (e a melancolia que vem intrínseca a ela), Scarlett entende o espírito especulativo e humano da verdadeira ficção científica, e arquiva uma performance tão cheia de nuances quanto qualquer das ótimas atuações presenciais do filme.

Poderia ter acontecido? Nas atuais conjunturas, não. O Oscar ainda nem indicou um ator por captura de performance, que dirá por trabalho de voice-over. Esse é só mais um dos aspectos nos quais a Academia ainda não está pronta para reconhecer o melhor, de verdade, da produção cinematográfica atual.

Já ganhou? Scarlett tem 4 indicações ao Globo de Ouro e é quase universalmente considerada uma das melhores atrizes de sua geração, mas nunca chegou a ser lembrada pelo Oscar. O mais perto disso foi o buzz em torno de sua atuação em Moça com Brinco de Pérola (2004).

2012

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Michelle Williams, por Entre o Amor e a Paixão

A Academia adora Michelle Williams, então é uma surpresa que tenham ignorado Entre o Amor e a Paixão, dramédia romântica da diretora canadense Sarah Polley que foi produzida em 2011, mas só chegou nos cinemas americanos no ano seguinte. Contrastando intensamente com a outra aparição de Williams no cinema em 2011 (Sete Dias com Marilyn), aqui a jovem atriz interpreta uma mulher normal, despida do glamour de estrela de cinema e das complicações à flor da pele de Marilyn Monroe. A performance de Williams como Margot é corajosa não só por permitir um retrato assim, tão banal, mas também por mergulhar fundo nas falhas e dilemas emocionais vividos pela personagem, cujo casamento com Lou (Seth Rogen) esfria quando o misterioso Daniel (Luke Kirby) se muda para a vizinhança. Entre o Amor e a Paixão, originalmente intitulado Take This Waltz, é um retrato brutalmente honesto da solidão fundamental da vida humana, e a intensa individualidade e idiossincrasia da atuação de Williams faz jus ao roteiro de Polley.

Poderia ter acontecido? Dada a predileção da Academia por Williams, com certeza. O que deve ter entrado no caminho da indicação é o gênero (quase uma comédia romântica) e o lançamento limitado do filme, produzido e lançado de forma mais ou menos independente.

Já ganhou? Não, mas foi lembrada três vezes na ainda curta carreira. A primeira por Brokeback Mountain, em que atuou ao lado do ex-marido Heath Ledger, a segunda por Namorados Para Sempre, e a terceira por Sete Dias com Marilyn.

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Ann Dowd, por Compliance

Tenso e incômodo, o filme de Craig Zobel se destacou no circuito indie em 2012. A polêmica quanto à história real em que o filme se baseia, e quanto aos degradantes momentos pelos quais a protagonista (Dreama Walker) passa nos curtos 90 minutos de metragem não foi o bastante para encobrir a contundente crítica que o diretor/roteirista faz à postura passiva da personagem feita por Ann Dowd. Tão protagonista quando a garota interpretada por Walker, a gerente do restaurante fast food que recebe uma prank call perigosa (para dizer o mínimo) é uma personagem para o espectador odiar e, ao mesmo tempo, pela qual ele se vê fascinado. Carregando a tese do filme nas costas, Dowd entrega uma interpretação superlativa, que acha as maneiras mais geniosas de retratar o processo mental dessa espectadora de um verdadeiro show de horrores. Apoiando-se em cada estrutura e burocracia do sistema capitalista, Dowd cambaleia pelo filme de Zobel como um retrato cruel, mas excepcionalmente humano, das armadilhas do mundo moderno.

Poderia ter acontecido? Muito dificilmente. Com o caráter polêmico do filme e o nome pouco conhecido de Dowd, poucos votantes da Academia devem sequer ter visto Compliance, que dirá votado por Dowd na concorrida categoria de Melhor Atriz.

Já ganhou? Infelizmente, não. O Oscar não é exatamente conhecido por premiar character actors como Dowd, e o trabalho mais destacado dela tem sido na televisão nos últimos anos, com aparições em Masters of Sex e The Leftovers, entre outras séries.

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Samantha Barks, por Os Miseráveis

Não é a toa que Samantha Barks foi a única atriz principal que Tom Hopper, o diretor de Os Miseráveis, chamou para seu filme diretamente da montagem teatral que o precedeu. O poderio vocal da moça fica mais que claro na rendição da clássica “On My Own”, mas é em cenas menores, anterior e posteriormente, que a performance de Barks realmente se destaca. A delicadeza na cena que marca a morte da personagem, com a belíssima "A Little Fall of Rain", é testemunha de uma atriz capaz de um grande leque de tons e emoções. Barks, estreante no cinema, empresta dicas da própria direção do filme, que fez todos os atores cantarem ao vivo para que as falhas em suas vozes fossem parte da humanidade dos personagens, e constrói uma versão vulnerável, sentida e completamente inesquecível de uma das personagens mais intensamente trágicas (e identificáveis) do cânone musical atual. Em um filme já intensamente humano, Barks entrega uma performance que aprofunda o próprio conceito de humanidade.

Poderia ter acontecido? Com uma produção do prestígio de Les Misérables, não dá pra dizer que era impossível – mas ela era a segunda na fila para Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme, e previsivelmente perdeu o lugar para a mais conhecida Anne Hathaway, que acabou vencendo a estatueta.

Já ganhou? Os Miseráveis foi a estreia de Barks no cinema, então a Academia ainda não teve a oportunidade de laurear essa moça de apenas 25 anos. Esperemos que as escolhas de papéis no futuro sejam boas o bastante para corrigir a injustiça cometida em 2012.

2011

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Roma Gasiorowska, por Suicide Room

Sobrenatural. Desde que tive o prazer de ver Suicide Room, em 2012, eu nunca consegui usar outra palavra para definir a performance de Roma Gasiorowska nele – e eu tenho a impressão que quem assiste ao filme de Jan Komasa tende a concordar comigo. Atuando quase totalmente através da imagem estática de uma webcam que mostra pouco mais do que seus olhos (mesmo porque a personagem usa uma máscara boa parte do tempo), Gasiorowska dá vida a essa força da natureza chamada Sylwia, que se torna a principal companhia de Dominik (Jakub Gierszal) quando este se reclui no mundo virtual depois de uma série de maus-tratos de seus colegas de escola. A estética da personagem, com a máscara, as tatuagens no rosto e o cabelo rosa, já é bastante marcante, mas a combinação opressiva de sedução, fervor ideológico e fragilidade que Gasiorowska empresta para Sylwia é uma colaboração toda particular da atriz, que se usa de artifícios bem mais sutis que aqueles de Gierszal para nos colocar no olho do furacão da depressão e do coração negro de Suicide Room, essencialmente uma crítica social.

Poderia ter acontecido? Só se o filme polonês tivesse tido mais impacto e entrada no circuito de grandes festivais. Subestimado como foi na época de seu lançamento, Suicide Room não chegou nem a uma indicação a Melhor Filme Estrangeiro, que dirá uma para Roma.

Já ganhou? Apesar dos múltiplos prêmios na Terra natal, Roma ainda não conseguiu um papel que a destacasse internacionalmente – mas ela ainda tem só 34 anos, então resta torcer para que isso aconteça algum dia.

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Tilda Swinton, por Nós Precisamos Falar Sobre o Kevin

O impacto da fábula anti-maniqueista da diretora Lynne Ramsay sobre a mãe de um garoto condenado como autor de uma chacina escolar foi tanto que até hoje a cineasta não conseguiu bolar um sucessor à altura. De forma absolutamente clínica, quase fria, o filme observa a epopeia de Eva (Swinton) durante os anos de formação do filho Kevin (Jasper Newell e Ezra Miller em fases diferentes) – em momento algum o roteiro deixa claro se a conduta desapaixonada da mãe era causa ou consequência do comportamento cada vez mais doentio e manipulador do filho. Mas é a na atuação de Swinton que mora o trunfo de Precisamos Falar Sobre o Kevin: carregando um peso enorme nas costas, a atriz tira proveito do porte físico frágil e nos faz esquecer das feições andróginas que fizeram sua fama, construindo uma Eva que é severa, debilitada, espantada e, acima de qualquer coisa, um produto do mundo a sua volta. A maestria da atuação de Swinton está em internalizar tudo aquilo que o ambiente e as situações do roteiro oferecem, criando uma identificação com o espectador que compensa pelo estilo (acertadamente) desapaixonado da direção.

Poderia ter acontecido? Mais do que isso: foi uma genuína surpresa quando não aconteceu. Swinton não estava ainda tão longe da sua vitória por Conduta de Risco, foi indicada ao Globo de Ouro e figurou em todas as listas de melhores performances daquele ano da crítica especializada.

Já ganhou? A vitória como Melhor Atriz Coadjuvante por Conduta de Risco não só veio tarde (2009) na carreira, como pareceu o prêmio de consolação da Academia para uma intérprete que eles nunca entenderam (e portanto, apreciaram) o bastante.

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Keira Knightley, por Um Método Perigoso

Keira Knightley é um dos jovens talentos britânicos mais apreciados pela Academia nesse século. As duas indicações aos prêmios de atuação, mais as outras vezes que o nome da inglesa figurou nas listas de possíveis indicados, no entanto, ignoram a melhor atuação da sua carreira até agora: na pele da problemática Sabina Spielrein em Um Método Perigoso, Keira desenha um arco de personagem que é difícil imaginar outra atriz desenhando. Inicialmente paciente do Dr. Jung (Michael Fassbender), a personagem de Keira começa o filme com um par de cenas verdadeiramente intensas, verborrágicas, delirantes, enriquecidas de pequenos detalhes e tiques nervosos pela interpretação da moça. Conforme o filme progride para o seu estudo aprofundado do desejo e das particulares da psique humana, Sabina é “curada” pela psicanálise e reconstrói sua vida e sua reputação – e a cuidadosa construção que Keira faz dessa personagem “sob controle” (ainda que precário) de si mesma é de uma maestria fascinante.

Poderia ter acontecido? A Academia nunca foi muito fã de David Cronenberg, e a transição do canadense de seus filmes mais chegados ao horror para dramas elegantes (ainda que essencialmente idiossincráticos) não impressionou muito, o que os torna virtualmente cegos para atuações como a de Keira.

Já ganhou? Lentamente Keira está dominando as mentes e corações da Academia, tendo sido indicada duas vezes (por Orgulho & Preconceito em 2006 e O Jogo da Imitação em 2015). Eventualmente a moça deve sim levar a estatueta para casa.

2010

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Juliette Binoche, por Cópia Fiel

Talvez a atriz mais celebrada e premiada da sua geração, Binoche já ganhou tudo o que se pode ganhar como atriz (ou quase tudo). Foi com Cópia Fiel que ela conquistou o prêmio do Festival de Cannes, consolidando sua posição como a mais recente de uma linhagem de grandes atrizes francesas (Deneuve, Huppert, etc). O filme do iraniano Abbas Kiarostami acompanha uma mulher francesa e um escritor britânico enquanto os dois passeiam por um vilarejo na Itália e discutem, nos âmbitos da arte e da vida, uma questão fundamental: até que ponto uma cópia é também, de sua forma, autêntica? A reflexão do filme só fica clara para quem realmente assiste (e olhe lá), mas apreciar a atuação de Binoche é inescapável – a sutileza com a qual sensibiliza sua personagem para as ações do único companheiro de cena, a forma como a vaidade e a insegurança são partes integrais de sua construção, e a afamada (com razão!) cena em que Elle, a personagem, se olha longamente no espelho são momentos testemunha do ápice de uma atriz brilhante.

Poderia ter acontecido? Mesmo com todo o barulho que o filme de Kiarostami fez em Cannes, não foi o bastante para o Oscar abrir os braços para o cinema estrangeiro com tanta convicção – são raras e bem espaçadas as ocasiões em que isso acontece.

Já ganhou? Binoche só ganhou atenção da Academia na fase mais hollywoodiana da carreira, previsivelmente. Venceu a estatueta por O Paciente Inglês, em 1997, e voltou a ser indicada pela comédia romântica Chocolate, em 2001.

2009

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Julianne Moore, por Direito de Amar

Citar só um filme em que Julianne Moore merecia ter sido lembrada pela Academia é uma tarefa dificílima (tanto que tivemos que escolher dois, como você pode ver aí embaixo) – especialmente nos últimos 15 anos, a americana tem escolhido e desempenhado seus papeis com um nível de refinação tão absoluto que é quase como se sua filmografia fosse uma série de performances dignas de Oscar, com pouquíssimos deslizes. No bom Direito de Amar, adaptação de Christopher Isherwood comandada pelo estilista Tom Ford, Julianne encara uma das personagens femininas coloridas pelas quais o escritor ficou conhecido. A amiga de meia-idade do protagonista interpretado com minimalismo exemplar por Colin Firth entra no filme cuidadosamente controlado de Ford como um furacão de comoção – intensa, trágica e patética, Charley é um retrato pintado com pinceladas largas, mas exemplarmente bem colocadas. Ela é o elemento mais gritantemente humano do filme, e os ecos de mágoas do passado que a personagem traz à jornada do protagonista são material farto para uma atriz como Moore, mesmo com o pouco tempo em cena.

Poderia ter acontecido? Teoricamente, sim. O filme de estreia de Tom Ford rendeu indicação a Melhor Ator para Firth, e Moore até foi indicada ao Globo de Ouro, mas a Academia a substituiu na categoria Melhor Atriz Coadjuvante por Maggie Gyllenhaal (Coração Louco).

Já ganhou? A novela de Julianne e o Oscar era uma das mais citadas entre os cinéfilos – até que a atriz finalmente ganhou o prêmio, na quinta indicação, pela atuação em Para Sempre Alice, em 2015.

2008

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Julianne Moore, por Ensaio Sobre a Cegueira

Nós lutamos por um tempo com a perspectiva de incluir a atuação de Moore em Minhas Mães e Meu Pai na lista, mas o papel protagonista pelo qual nós realmente gostaríamos de ter visto Julianne entre as indicadas é esse, na adaptação de José Saramago empreendida pelo brasileiro Fernando Meirelles. Ensaio Sobre a Cegueira é um filme tumultuado, extremo e coalhado de sensações, como manda a própria premissa, e a âncora moral da história, durante todo esse tempo, é a atuação de Moore como a esposa do médico interpretado por Mark Ruffalo (os personagens não ganham nomes). O sofrimento pelo qual a personagem passa é governado por leis tão diferentes daquelas do nosso mundo que talvez, nas mãos de outra atriz, fosse difícil de identificar com ela. Mas não só o diretor Meirelles faz um bom trabalho em nos colocar o tempo todo junto com esses personagens, como Moore realiza um trabalho profundamente humano, que deixa as falhas da personagem aparecerem e sua resiliência nos parecer tão natural quanto extraordinária.

Poderia ter acontecido? A recepção crítica morna do filme de Fernando Meirelles tornou virtualmente impossível que qualquer aspecto dele fosse reconhecido pelo Oscar – uma pena, porque a obra dirigida pelo brasileiro está passando por revisões e reavaliações críticas até hoje.

Já ganhou? Vide a aparição anterior de Julianne na lista.

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Kristin Scott Thomas, por Há Tanto Tempo Que Te Amo

Majestosamente elegante em sua presença em filmes de época durante os anos 90, no auge de seu estrelato, a bela inglesa Kristin Scott Thomas encontrou no papel mais improvável o pico de sua atividade como atriz. Sob a direção crua de Philippe Claudel, e interpretando uma mulher que acaba de sair da cadeia após cumprir pena pelo assassinato do seu próprio filho, na época com 6 anos, Thomas brilha na ambiguidade e na culpa que empresta à personagem. O filme nos deixa no escuro, por boa parte do tempo, sobre os motivos que levaram ao horrendo crime, mas brinca com o espectador ao humanizar intensamente essa mulher da qual não estamos absolutamente dispostos a gostar. Thomas mantem essa ambiguidade, mas ao mesmo tempo parece trilhar uma jornada toda sua durante o filme, observando com olhos cansados as reações adversas daqueles a sua volta, e carregando desafiadoramente um sufocante luto que incomoda justamente por parecer tão fora de lugar. Há Tanto Tempo Que Te Amo contesta cada percepção do espectador, e nenhuma é mais forte que a causada pela performance de Thomas.

Poderia ter acontecido? Deveria. O filme de Claudel quebrou barreiras internacionais quando fez Thomas ser indicada ao Globo de Ouro pelo papel – o reconhecimento do Oscar era bastante esperado, mas acabou não acontecendo. Há Tanto Tempo Que Te Amo não entrou nem na competição por Melhor Filme Estrangeiro.

Já ganhou? Perdeu sua única indicação no mesmo ano em que a co-estrela (e companheira de lista) Juliette Binoche ganhou, por O Paciente Inglês. Desde então, as aventuras britânicas e francesas da atriz não impressionaram a Academia.

2007

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Keri Russell, por Garçonete

Largamente assombrado pelo fantasma do horrível assassinato de sua diretora, Adrienne Shelly, antes do lançamento do longa-metragem, Garçonete é um comovente feel good movie feminista sobre uma mulher que descobre que há maneiras mais definitivas de fugir da realidade de um casamento infeliz do que se afogar nas elaboradas receitas de torta que faz na lanchonete local. Jenna, interpretada por Keri Russell, nunca perde a ternura durante os transformativos eventos do decorrer do filme, mas a performance da atriz dá dicas do endurecimento e da independência que a personagem adquire em momentos sutis. Passeando confortavelmente entre drama e comédia, e excepcionalmente minuciosa em cada momento, Russell e seu sorriso contagiante são a alma e o corpo de Garçonete. Cada passo da trama é seguido de perto pela observação paciente e cuidadosa das reações de Jenna ao que acontece a sua volta, e a adorável inocência da performance de Russell vem escondendo, apropriadamente, uma força e uma inteligência insuspeitas.

Poderia ter acontecido? O filme recebeu bastante amor da crítica especializada, mas como acontece com a maioria das dramédias indie, isso não se traduziu em grandes premiações. Russell, largamente uma character acrtess de TV, tampouco tem o “perfil” que o Oscar procura.

Já ganhou? Está demorando para Russell receber o prestígio que merece. Não só pela atuação em Garçonete, mas ela é sistematicamente ignorada pelo Emmy e pelo Globo de Ouro todos os anos, visto que os votantes se recusam a indicar sua brilhante performance em The Americans.

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Marcia Gay Harden, por O Nevoeiro

Genial e muitas vezes mal-compreendido, O Nevoeiro está começando a passar por reavaliações críticas nos últimos anos. Essa é a hora, portanto, de reconhecer o poderoso trabalho de Marcia Gay Harden no filme, interpretando a fanática religiosa Mrs. Carmody – a atriz, que aliás parece se ajustar excelentemente a tudo o que faz (vide a comédia Trophy Wife, precocemente cancelada pela ABC), encarna o espírito à flor da pele da narrativa de Stephen King e, especialmente, entende o ponto essencial do qual ela pretende tratar. Da sua expressão corporal escorregadia e ameaçadora até o fogo que arde nos olhos de Carmody na infame cena em que ela faz uma oração iluminada por velas no banheiro do supermercado em que todos os personagens estão presos, tudo na performance de Harden grita e esperneia que essa personagem precisa ser entendida como um monstro. Mais sutil e assustadora do que qualquer dos enormes aliens que assombram os personagens de O Nevoeiro, Harden é a pedra fundadora sobre a qual o filme se sustenta.

Poderia ter acontecido? O problema aqui é de gênero cinematográfico: o “filme de monstros” de Darabont jamais se qualificaria, na mentalidade da Academia, para prêmio nenhum. Sem contar que a obra foi subestimada até pela crítica especializada.

Já ganhou? Harden foi indicada duas vezes a Melhor Atriz Coadjuvante e venceu pela cinebiografia Pollock, em 2001. A outra indicação veio três anos depois, pelo papel no drama Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood.

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