27 de jul. de 2015

Diário de filmes do mês: Julho/2015

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por Caio Coletti

Nem todos os filmes merecem (ou pedem) uma análise complexa como a que fazemos com alguns dos lançamentos mais “quentes” ou filmes que descobrimos e nos surpreendem positivamente. Particularmente, eu não me dou a escrever críticas grandes de filmes que considero ruins ou irrelevantes, porque não vejo sentido em remoer demais os erros de uma produção cinematográfica. É levando em consideração a função da crítica e da resenha como uma orientação do público em relação ao que vai ser visto em determinado filme que eu resolvi criar essa coluna, que visa falar brevemente dos filmes que não ganharam review completo no site. Vamos lá:

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Cada Um na Sua Casa (Home, EUA, 2015)
Direção: Tim Johnson
Roteiro: Tom J. Astle, Matt Ember, baseados no livro de Adam Rex
Elenco: Jim Parsons, Rihanna, Steve Martin, Jennifer Lopez, Matt Jones
94 minutos

É fácil dizer que a Dreamworks Animation está acomodada a uma fórmula – desde que redescobriu que o público é capaz de abraçar qualquer tipo de história desde que ela seja executada com a dose certa de sinceridade emocional, a empresa enfileirou sucessos fora das franquias que a fizeram famosa (Shrek e Madagascar). Para mais detalhes dessa guinada nos filmes da empresa, dá uma olhada nesse artigo, que publicamos no finalzinho do ano passado. Cada Um na Sua Casa não é tão diferente de Os Croods e Megamente, para citar alguns dos títulos recentes da Dreamworks, mas nem por isso deixa de ser uma aventura tão empolgante para as crianças quanto ressonante para os adultos, o que indica que, pelo menos por hora, a tal fórmula está funcionando. O diretor Tim Johnson, responsável por Os Sem-Floresta e Formiguinhaz, é um talentoso criador de visuais animados, e o roteiro de Tom J. Astle e Matt Ember pode até encontrar alguns obstáculos pelo caminho (demora, por exemplo, para a trama acertar no tom do humor), mas chega são e salvo até o final da jornada.

Tal e qual, inclusive, seus protagonistas: o alienígena Oh (Jim Parsons) e a humana Tip (Rihanna). Os dois se unem depois de uma invasão da raça Boov, a qual Oh pertence, na Terra – um outsider entre seus próprios semelhantes, Oh e condenado e caçado por cometer um erro fatal que pode trazer para o novo lar de sua espécie os inimigos mortais dos Boov. Tip, por sua vez, foi separada da mãe (Jennifer Lopez) durante a invasão, e deseja reencontrá-la. Os momentos mais bacanas de Cada Um na Sua Casa são aqueles que fazem do filme um quase-road movie protagonizado por uma dupla que não se afasta muito de todos os pares antagônicos que geralmente protagonizam as obras do gênero. Oh e Tip, especialmente na interpretação vivaz de seus dubladores, são dois personagens cativantes que carregam tranquilamente uma história honesta e tocante sobre coragem, amizade e diversidade. Não dá, sinceramente, para querer mais que isso.

✰✰✰✰ (4/5)

Jack-Reacher-PosterJack Reacher: O Último Tiro (Jack Reacher, EUA, 2012)
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Christopher McQuarrie, baseado no livro de Lee Child
Elenco: Tom Cruise, Rosamund Pike, Richard Jenkins, David Oyelowo, Wender Herzog, Jai Courtney, Robert Duvall
130 minutos

Jack Reacher, primeira adaptação para o cinema de uma série de 20 (!) livros assinados por Lee Child sobre um ex-detetive militar que se envolve em uma série de crimes e conspirações, tem uma primeira cena que pertence a um filme muito melhor do que ele. A silenciosa setpiece montada com personalidade pelo diretor e roteirista Christopher McQuarrie, que ganhou o Oscar pelo script de Os Suspeitos, segue primeiro um atirador (Jai Courtney) se preparando para cometer uma série de cinco assassinatos, escolhidos a dedo em um local público; e depois um detetive (David Oyelowo) juntando as pistas e provas desse mesmo crime para fazer a apreensão de um homem que, só o espectador sabe, na verdade é inocente. Além de tremendamente bem realizada, a sequência é uma forma concisa de nos apresentar a premissa do filme, que se desenrolará quase metodicamente (e de forma exponencialmente mal-planejada) nas duas horas seguintes, e é também um intrigante início para uma trama de suspense – um início que, talvez, até o mestre Alfred Hitchcock aprovaria. O problema é que logo em seguida entra em cena o personagem-título, interpretado por um Tom Cruise que, este que vos fala arrisca dizer, nunca esteve tão pouco carismático.

A culpa não é de todo dele, no entanto. Na série Missão: Impossível, o astro interpreta um agente ultra-competente não muito diferente do que encarna em Jack Reacher, mas ao menos os roteiristas tem a decência de trabalhar nos diálogos para que Ethan Hunt não soe tão condescendente quanto Reacher, telegrafado no filme como um bully misógino que nutre profundo desprezo pela humanidade e por qualquer coisa que não seja sua missão “justiceira”. Jack Reacher, o filme, não está interessado em construir um personagem, porque não apresenta essas falhas do seu protagonista como tais (o que seria aceitável) – prefere urdir com seu protagonista uma ode mal-idealizada às piores fantasias masculinas. É uma pena, de fato, porque a trama de Jack Reacher (e seu elenco coadjuvante, que inclui vários ótimos atores lutando contra as limitações do roteiro) poderia render algo bem mais substancial.

✰✰ (2/5)

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Hot Girls Wanted (EUA, 2015)
Direção: Jill Bauer, Ronna Gradus
Roteiro: Brittany Huckabee
84 minutos

Um dos pontos pivotais de Hot Girls Wanted, documentário produzido pela atriz Rashida Jones (Parks & Recreation) sobre a indústria da pornografia amadora, que estreou no Festival de Sundance e depois foi direto para o Netflix, acontece quando uma das principais personagens do filme entrega um intrigante monólogo sobre a forma como o trabalho no pornô não difere tanto do dia-a-dia de qualquer pessoa presa em um trabalho do qual precisa, mas que odeia com todas as forças. Frequentemente, na linguagem do documentário, a visão do diretor (e do roteirista) se impõe sobre uma história de tal forma que outros ângulos dela aparecem em apenas alguns momentos, quase como se tivessem sido deixados no filme sem querer. Em Hot Girls Wanted, esse “outro ângulo” é tão crucial e impositivo que se sobrepõe facilmente diante da mensagem que a dupla de diretoras Jill Bauer e Ronna Gradus (Sexy Baby) tentam passar nas bordas do material recolhido com suas personagens. Tome o começo do filme, por exemplo, que martela dados e imagens impressionantes no espectador a fim de nos convencer, e não muito sutilmente, de que a sociedade contemporânea passa por uma insensibilização sexual que, em grande parte, é culpa da cultura popular – e da relação direta dela com fenômenos como a pornografia online.

Bauer e Gradus podem até estar certas, e seria interessante ver que tipo de filme elas serias capazes de fazer concentradas nessa mensagem, mas o material recolhido das fontes de Hot Girls Wanted não conversa com o espectador sobre o que as diretoras pretendiam conversar. Pegando a dica daquele trechinho sobre as prisões do trabalho no sistema capitalista, a história dessas garotas pede para que o espectador entenda que tipo de necessidade empurrou cada uma delas para uma indústria que eventualmente se mostra tão incapaz de lhe conceder o que elas querem quanto qualquer outra. As frustrações da protagonista Tressa e de todas as outras personagens do filme não diferem muito daquelas que qualquer um enfrenta quando começa a encarar o mundo de frente – em busca de autonomia, liberdade e independência (através do dinheiro, mas também através da distância e da rebeldia), elas encontram um sistema explorador e degradante, que as destrói aos poucos. Hot Girls Wanted pode não provar o ponto que as suas criadoras pretendiam, mas ainda vale a pena ser visto.

✰✰✰✰ (3,5/5)

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What Happened, Miss Simone? (EUA, 2015)
Direção e roteiro: Liz Garbus
101 minutos

De forma muito semelhante à extraordinária artista que o inspira, o documentário What Happened, Miss Simone?, produzido pelo Netflix, é uma peça de cinema notavelmente raivosa. Ou quem sabe a melhor palavra para definí-lo seja ”enfurecido”, ou qualquer coisa que expresse o tipo de revolta justificada e recheada de empoderamento que é o combustível do trabalho da diretora/roteirista Liz Garbus (Love, Marilyn) ao trabalhar a vida da cantora e ativista dos diretos civis negros Nina Simone. A “High Priestess of Soul” (algo como “Alta Sacerdotisa do Soul”), como ela foi conhecida, morreu em 2007, mas é a força inspiradora por trás de cada uma das cantoras do gênero que vieram depois dela, especialmente das que tocam em questões sociais. Na época de Martin Luther King e Malcolm X, ela foi a artista que mais apaixonadamente se envolveu com a luta pelo fim da segregação racial nos EUA, e What Happened Miss Simone faz ao espectador um favor ao privilegiar o estudo de sua importância na época (e as consequências desse trabalho social na sua carreira, vida e psicologia) do que de seu duradouro impacto musical na música americana. A preferência é de fontes que contam a experiência de viver àquela época e a forma como Simone a encarou – uma cruzadora de barreiras desde a infância, a artista é apresentada como a porta-voz de um sentimento enraizado de revolta que explodiu de maneira tão desastrosa quanto essencial na época em que ela viveu.

No fim das contas, o filme de Garbus é bem-sucedido em nos mostrar que o mundo talvez não fosse o mesmo sem Nine Simone ter passado por ele, e não é esse o objetivo de qualquer documentário que pretende eternizar seu sujeito? Entrecortando trechos de falas da própria Simone, longas gravações de performances, partes do diário pessoal da cantora e entrevistas com pessoas como a filha Lisa, empresários e amigos, o filme é uma mistura de técnicas cinematográficas curiosa que, em alguns momentos, pode ficar um pouco confusa. O que importa em um documentário, no entanto, é força da história que ele tem para contar, e What Happened Miss Simone? é definitivamente uma peça poderosa de arte, tal e qual era sua musa inspiradora. Única, conflituosa e terrivelmente humana como todos nós, Nina Simone era a encarnação do ultraje de uma época, mas expressava sentimentos tão atemporais quanto sua voz e pessoa, eternizados em vídeo e áudio para a nossa e as próximas gerações.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

Parallels (2015)

Parallels (EUA, 2015)
Direção: Christopher Leone
Roteiro: Laura Harkom, Christopher Leone
Elenco: Mark Hapka, Jessica Rothe, Eric Jungmann, Constance Wu, Yorgo Constantine
83 minutos

Vamos direto ao ponto aqui: Parallels foi planejado para ser uma série de TV. O criador, diretor e roteirista Christopher Leone, que tem no currículo duas web-séries (Suit Up e Wolfpack of Reseda), expandiu os 40 e poucos minutos do episódio piloto original e vendeu o produto final para o Netflix, esperando que o público lhe desse notoriedade o bastante para que a Fox Digital Studios repensasse a decisão de dispensar a trama. Do jeito como está, com pouco menos de uma hora e meia, Parallels é um filme tremendamente frustrante – mas vale a pena lhe dar audiência com base na possibilidade de uma continuação no formato em que ele foi planejado para existir, porque Parallels daria uma série de TV bastante divertida. Só não entre nessa esperando respostas fáceis, porque o que você vai encontrar aqui é um monte de questões cujas resoluções ficam seguramente guardadas para qualquer futuro que essa história possa ter como cinema ou como TV. Com as expectativas devidamente ajustadas, essa trama sobre um grupo de pessoas tentando decifrar os segredos de um prédio misterioso que faz quem se encontra dentro dele “pular” entre universos e realidades paralelas pode ser uma das ficções científicas mais espertas e interessante dos últimos anos.

O elenco não é dos mais brilhantes, mas tampouco atrapalha o andamento do roteiro, esse sim o grande atrativo de Parallels. No texto de Christopher Leone, a premissa criativa do “filme” se transforma em um conto de ficção inspirado nos melhores autores da literatura do gênero e, ao mesmo tempo, ajustado perfeitamente ao formato televisivo. Num futuro possível para a trama, é fácil visualizar a forma como uma temporada inteira de Parallels se estruturaria, e é fácil também se empolgar com essa perspectiva. Pelo menos uma das personagens principais (Polly, interpretada pela Constance Wu) é tremendamente interessante, e os três protagonistas restantes são explorados de maneira esperta pelo roteiro, que deixa as grandes revelações da trama para o final do “filme”, à imagem e semelhança do melhor piloto de TV que vimos no nosso século (o de Lost, obviamente). Parallels vai te deixar torcendo pelo futuro dele, mas não é a experiência mais gratificante em termos de cinema.

✰✰✰ (3/5)

Synedoche

Sinédoque, Nova York (Synecdoche, New York, EUA, 2008)
Direção e roteiro: Charlie Kaufman
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Samanta Morton, Michelle Williams, Catherine Keener, Emily Watson, Dianne Wiest, Jennifer Jason Leigh, Hope Davis, Tom Noonan
124 minutos

“Sinédoque” é a palavra em português para um tipo especial de figura de linguagem: quando usamos um termo que se refere a parte de um todo para representá-lo. Quando dizemos “o homem” para representar a espécie humana, por exemplo, fazemos uma sinédoque. De forma classicamente metalinguística que conversa com todas as obras anteriores do roteirista (e aqui diretor estreante) Charlie Kaufman, Sinédoque Nova York aplica esse conceito tanto para a jornada do personagem principal, um diretor de teatro que, depois de receber um prêmio especial, almeja montar uma peça “verdadeira” e desenvolve tamanha obsessão com isso que constrói uma réplica de uma parte de Nova York dentro de um armazém gigantesco (é mais complicado que isso, mas enfim); quanto para a jornada do próprio Kaufman, que usa a ambição do seu protagonista como espelho para a sua, e constrói uma história que mostra uma parcela tão pequena da experiência humana, a jornada de apenas uma pessoa em apenas uma fatia de sua vida, mas tem o objetivo de refletir sobre o todo da vida, suas reentrâncias e particularidades. Assim como o Caden Cotard magnificamente interpretado pelo saudoso Philip Seymour Hoffman (em performance sutil, densa e honesta como todas as suas eram), Kaufman chega a conclusão de que o mundo é grande demais para um escritor só abraçá-lo. Ele pode ser grande demais até para a espécie humana inteira abraçá-lo.

A brincadeira metafíssica/linguística de Kaufman acaba desaguando em uma meditação sobre as agruras da perda, da terrivelmente desesperadora “não-conclusão” das coisas da vida, da amarga falta de entendimento que temos delas, mesmo que achemos o contrário. O elenco é peça importante porque encarna o espírito da trama no sentido de entregar performances que estão o tempo todo conscientes de que são performances – seja no humor absurdista da personagem de Hope Davis, no exagero que Michelle Williams impõe ao seu retrato de uma persona clichê da estrela hollywoodiana, na naturalidade que Samantha Morton mostra frente aos pequenos desajustes do mundo criado por Kaufman (um dos mais inquietantes é a casa de sua personagem, que está perpetuamente pegando fogo). Como trabalho de um roteirista por excelência, Sinédoque é uma obra-prima imperfeita – um filme com uma grande história para contar, que a conta com alguns problemas técnicos pelo caminho. É um trabalho importante, no entanto, corajosamente pessimista e, mesmo assim, bastante belo. Ao reconhecer que todos estamos, essencialmente, atuando como nós mesmos pelo mundo, Kaufman chega ao auge de sua exploração metalinguística da realidade, e faz seu trabalho mais extraordinariamente tocante até hoje.

✰✰✰✰✰ (4,5/5)

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Wildlike (EUA, 2014)
Direção e roteiro: Frank Hall Green
Elenco: Ella Purnell, Bruce Greenwood, Diane Farr, Nolan Gerard Funk, Brian Geraghty, Joshua Leonard, Ann Dowd
104 minutos

Os dois protagonistas de Wildlike, drama americano independente que está disponível no Netflix, são o que em inglês se chama de loner. A palavra “solitário” não faz bem jus ao termo, que expressa muito mais uma predisposição para o isolamento e a auto-reflexão do que um estado temporário ou forçado de solidão. Na lindíssima metáfora que o filme faz em certo momento, tanto Mackenzie (Ella Purnell) quanto Bart (Bruce Greenwood) são como pipas que escaparam das mãos daqueles que seguravam a outra ponta das suas linhas. A jovem Mackenzie perdeu o pai um ano antes do filme começar, e é deixada pela mãe mentalmente instável para morar com o tio (Brian Geraghty), o que mais tarde se prova ser uma péssima ideia. Obrigada a fugir da casa do anfitrião quando precisa encarar que morar com o tio pode significar um inferno de abusos sexuais, Mackenzie eventualmente topa com Bart, um viúvo que está fazendo sozinho a viagem que costumava fazer com a esposa falecida – o que incluí vários dias de isolamento acampando em um parque natural no Alaska. O diretor estreante Frank Hall Green tira bom proveito das belíssimas paisagens com as quais sua câmera se confronta, ilustrando com a ajuda da fotografia de Hillary Spera (Terror na Ilha) seu roteiro exemplarmente contido, que não desperdiça diálogos e tira o máximo até dos momentos silenciosos.

A sensibilidade particular de Wildlike não é para os espectadores mais inquietos. Um pouco como Boyhood, a obra-prima mal-compreendida que Richard Linklater lançou no ano passado, o filme tira de momentos aparentemente banais muito significado. O elenco pega essa deixa e entrega atuações sutis e inteligentes, que encontram os momentos certos para demonstrar as emoções de personagens que parecem verdadeiramente táteis, tremendamente compreensíveis. O veterano Greenwood, que esteve recentemente na franquia Star Trek, faz um trabalho que merece nota particular, trabalhando linguagem corporal e expressando o pesar de seu personagem pela ausência da esposa muito mais na forma como se relaciona com Mackenzie e os outros personagens do que em grandes discursos e epifanias, luxos que o roteiro não se permite. O mesmo vale para a jovem Purnell e para a pequena participação da grande Ann Dowd (Compliance), que faz em uma cena o que muitas atrizes não conseguem fazer em filmes inteiros – Wildlike, como seus atores, se esforça para ultrapassar os limites da tela e habitar o mundo real. Em grande parte, ele consegue.

✰✰✰✰ (3,5/5)

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Mais um Verão Americano (Wet Hot American Summer, EUA, 2001)
Direção: David Wain
Roteiro: Michael Showalter, David Wain
Elenco: Janeane Garofalo, David Hyde Pierce, Michael Showalter, Marguerite Moreau, Paul Rudd, Christopher Meloni, Molly Shannon, Ken Marino, Joe Lo Truglio, Amy Poehler, Bradley Cooper, Elizabeth Banks
97 minutos

É curioso como muitos filmes se tornam “obrigatórios” (o que quer que isso realmente signifique) por acaso. Digo isso porque, às vezes, é fácil prever que certos trabalhos vão se tornar marcos, seja pelo trabalho de determinados nomes (diretores, roteiristas, atores), pela importância do tema tratado ou pela circunstância do seu lançamento. Mais um Verão Americano não tinha nada disso a seu favor quando chegou nos cinemas, lá em 2001, e começou a angariar seu status de cult. Quatorze anos depois, o Netflix captou a mensagem dos fãs, comprou o filme e mandou produzir uma minissérie que traz mais aventuras (e desventuras) do grupo de personagens apresentado aqui. No melhor espírito da sátira escrita e dirigida por David Wain e Michael Showalter, os mesmos atores da história original vão retornar à pele de seus personagens, desconsiderando totalmente o envelhecimento de todos eles. Em suma, Wet Hot American Summer (a minissérie) vai ser uma prequel na qual os personagens vão parecer uma década e meia mais velhos do que no original – e o mais bacana é perceber que, em uma história como essa, a discrepância e incoerência é muito mais virtude do que defeito.

O filme acompanha um grupo de monitores de um acampamento de verão, um dos “ritos de passagem” mais tradicionais dos jovens americanos. O estilo quase em sketches do roteiro pode parecer familiar para qualquer um que já se deparou com os filmes da série Todo Mundo em Pânico, com a diferença de que Mais um Verão Americano não confia em referências de filmes específicos (e com data de validade) para funcionar. A comédia aqui vem do exagero no retrato dos estereótipos do personagem, do caráter absurdista de alguns plot points e formas de encenação (a cena em que Beth e Neil saem desesperados a procura de um outro monitor é especialmente marcante), mas também da visão nada cínica que os diretores lançam sobre suas criaturas. Ajuda ter um elenco composto de alguns veteranos (Janeane Garofalo, David Hyde Pierce, Christopher Meloni) perfeitamente sintonizados com o humor do filme e vários novatos (Paul Rudd, Molly Shannon, Joe Lo Truglio, Amy Poehler, Bradley Cooper, Elizabeth Banks) que se tornariam nomes reconhecidos nos anos seguintes. Honesta, de certa forma reverente e – mais importante – frequentemente hilária, a sátira de Mais um Verão Americano é uma pérola que valeu conservar.

✰✰✰✰ (4/5)

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